sábado, dezembro 30, 2006

Voto para 2007

















Ouvir o silêncio
deixá-lo encher gota a gota
o coração
como um remédio natural;
beber com o olhar,
aprender assim - a mitigar a sede.

Amândio Sousa Dantas



[foto: Chafariz da Praça de Camões, jcml; poema "Ouvir o Silêncio" de Amândio Sousa Dantas - Pousado no Silêncio, Lisboa: Edições Ceres, 2003, pág. 91]

sexta-feira, dezembro 29, 2006

O Teatro Diogo Bernardes e o cinema_1924


A 21 de Setembro de 1924, o jornal Cardeal Saraiva anunciava a exibição do filme “O Primo Basílio”, que julgamos tratar-se da versão cinematográfica, realizada por Georges Pallu, em 1922, do romance de Eça de Queirós (1845-1900). Se assim foi, na tela branca terá surgido Amélia Rey Colaço, no papel de Luísa. Recorde-se que “O Primo Basílio”, escrito na Inglaterra e editado em 1878, retrata uma típica família da média burguesia lisboeta. Ainda, no mesmo mês, é anunciada a intenção de adquirir um piano. A edição de 19 de Outubro registava o facto de a “ultima sessão” já ter “orquestra e as seguintes também a terão até chegar o piano”. Entretanto, divulgava-se a exibição, para 9 de Novembro, de “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, cremos de Georges Pallu (1920). Com base no romance homónimo de Júlio Dinis, o filme inclui exteriores gravados em Lanhelas (Cf. http://www.amordeperdicao.pt/). Nos finais de Novembro, projectou-se sobre a tela mais um filme de Charlie Chaplin, desta feita “Charlot nas trincheiras”.
[Fontes: jornal Cardeal Saraiva, números referidos no corpo do texto; sítio www.amordeperdicao.pt. A primeira foto refere-se ao filme "O Primo Basilio", a segunda é um fotograma de "Os Fidalgos da Casa Mourisca" e a última uma imagem de "Charlot, o soldado" (1918)]

quinta-feira, dezembro 28, 2006

O Teatro Diogo Bernardes e o cinema_1923 e 1924

Em 1923, após um período de silêncio, o jornal Cardeal Saraiva noticiava que “parece que sempre vamos ter, dentro em breve, sessões de cinema no nosso Diogo Bernardes” (4.01.1923). Contudo, apenas em meados de Outubro, o mesmo jornal informa os seus leitores que “brevemente, talvez a partir dos princípios de Novembro, começará a haver sessões cinematográficas” (21.10.1923). A edição de 9 de Dezembro, por sua vez, anunciava o recomeço das sessões de cinema no dia 26 daquele mês, por iniciativa de uma empresa composta por Guilherme Castro, Caetano de Oliveira e Virginio Baptista, o que não veio a acontecer. O projecto terá sido adiado “por ainda não estar concluída a instalação electrica no edifício do teatro” (Cardeal Saraiva, 16.12.1923). No ano seguinte, volta-se a referir que “parece estar definitivamente assente a constituição de nova empreza cinematográfica, devendo as sessões começar num dos próximos domingos” (Cardeal Saraiva, 8.05.1924). O articulista não deixará de soltar uma expressão de dúvida: “será desta vez?” (idem). Junho traz, definitivamente, a sétima arte à vila. A exploração do bufete foi posta em praça, sendo a base do arrendamento “50$00 e por espectáculo” (Cardeal Saraiva, 8.06.1924). Os festejos dos santos populares parecem não ter afectado negativamente a frequência das sessões e o agrado era geral (Cf. Cardeal Saraiva, 29.06.1924).
Em Julho, anunciava-se a exibição das imagens do Raid Aéreo Lisboa – Rio de Janeiro, realizado pelos aviadores Gago Coutinho (1869-1959) e Sacadura Cabral (1881-1924), em 1922. Nesta viagem histórica foram empregues os métodos e instrumentos de navegação nocturna, incluindo um sextante especial, da autoria de Gago Coutinho. O anos 20, particularmente 1922, foram tempos de aproximação cultural entre o Brasil e Portugal, reforçando-se vínculos e uma ideia e sentimento lusíada.

Em Agosto, na tela do teatro limiano projectar-se-ia o Charlot (não se designando a película exibida; publicamos um dos cartazes da época em que Charlie Chaplin aparece junto de Edna Purviance) e a Vingança de Tarzan (Cardeal Saraiva, 24.08.1924), cujo cartaz (de 1920) publicamos.
[Fontes: edições do jornal Cardeal Saraiva referidas no corpo do texto. Sobre a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral veja-se, por exemplo, http://www.museumarinha.pt/ ]

quarta-feira, dezembro 27, 2006

O Teatro Diogo Bernardes, o cinematógrafo e a Companhia Rey Colaço

Em Janeiro de 1922, os habitantes da vila, admiradores do cinema, assistiram ao drama Falsa Herdeira e à comédia Excursão Agitada, precedidas das Actualidades. Os primeiros domingos de Fevereiro trouxeram Amor Proibido, Em busca de aventuras, Repeniques de Amor, Pequena Endiabrada, Mensageira de Ventura e Ele no Camarim. O Carnaval desse ano incluiu uma sessão de cinema que antecedeu o baile, animado pela orquestra da vila regida por António Ferraz. Em Março, as sessões cinematográficas previstas para os dias 20 e 21 foram canceladas para que a sala desse lugar ao teatro, à Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, que levou à cena Marianela e Entre Giestas. O jornal Cardeal Saraiva, de 23 de Março de 1922, dirá a propósito deste espectáculo que os actores deixaram "uma impressão muito agradavel da sua maneira de fazer arte", destacando o trabalho de Henrique Albuquerque e António Pinheiro. Das duas peças "agradou mais Entre Giestas".

A Companhia Rey Colaço Robles Monteiro fizera a sua primeira aparição em público na noite de 18 de Junho de 1921, no Teatro de S. Carlos, com uma peça de Alfredo Cortez. Não deixa de ser interessante notar que Amélia Rey Colaço (1898-1990) estreou-se em 1917 com a peça Marianela, de Perez Galdós, a mesma que a companhia levou à cena em Ponte de Lima, em 1922. Como refere a página electrónica do Museu do Teatro, "Amélia Rey Colaço era uma actriz de excepção e além disso escolhia o repertório da companhia e distribuía as peças, bem como chamava a si a montagem de cada espectáculo, imprimindo-lhe requintes até então desconhecidos e que marcariam não só a companhia como todo o teatro em Portugal" (Cf. http://www.museudoteatro-ipmuseus.pt/). Durante o período em referência, no repertório da companhia predominavam "as peças dos novos autores portugueses, 38 ao todo, 22 em estreia incluindo seis revistas de carnaval com nomes como Alfredo Cortez, Carlos Selvagem ou Ramada Curto. A seguir vêm 28 peças francesas, 22 em estreia; 19 peças espanholas, 15 em estreia, sendo 5 dos célebres irmãos Quintero; 5 peças italianas, 2 brasileiras e 2 americanas" (idem). A partir de 1929, Amélia Rey Colaço e o seu marido Robles Monteiro (1888-1958) dirigem a Companhia do Teatro Nacional.
No fim de Março, a imprensa limiana anuncia a passagem, nos dias 9 e 10 de Abril, do filme Amor de Perdição. Tudo leva a crer que se tratava da primeira adaptação para cinema do romance de Camilo Castelo Branco (1825-1890), publicado em 1862, realizada por Georges Pallu, em 1921.

[Fontes: jornal Cardeal Saraiva, números referentes aos meses de Janeiro a Março de 1922; Joaquim Veríssimo SERRÃO - História de Portugal. s/l: Editorial Verbo, 1990, vol. XII; António REIS - Portugal Contemporâneo. s/l: Publicações Alfa, vol. 2; www.museudoteatro-ipmuseus.pt e www.amordeperdicao.pt]

domingo, dezembro 24, 2006

Natal


Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.
Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.
Como posso, pergunto o ano
inteiro, viver sem Cristo
(por sinal,
na santa paz do gusano)
e agora embalar-te: isto
é Natal?
(...)
Perdoa, Infante, a vaidade,
a fraqueza, o mau costume
tão geral:
fazer da Natividade
um pretexto, não um lume
celestial.
(...)
[extractos do poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado Conversa informal com o Menino, constante no 8º volume da Obra Poética, publicada pela Europa-América, 1989]

sexta-feira, dezembro 22, 2006

O Teatro Diogo Bernardes e o cinematógrafo_1921

O jornal Kodak, quinzenário editado por João José Correia, anunciava, na edição de 27 de Novembro de 1921, a inauguração do cinematógrafo no elegante "Diogo Bernardes". Para o articulista seria imperdoável não se referir "a esta bela inovação introduzida no nosso meio por iniciativa, bôa-vontade e desejo de Avanço, que animam alguns filhos desta terra, excepcionalmente linda como profundamente esquecida, que a tudo tem jus e que de tudo até agora, tem carecido". Por sua vez, o jornal Cardeal Saraiva, na edição do mesmo dia, dava nota da afluência do público às sessões que projectavam "as ultimas creações cinematographicas das melhores casas americanas e europeias" (Cf. Cardeal Saraiva, 17 de Novembro de 1921). Às sessões nocturnas, em Dezembro, foi acrescentada uma matinée, pelas 14.30 horas. Mas se as fitas "não desagradaram pelo entrecho e interpretação, não satisfizeram pela sua exibição", pelo que se aconselhava a manutenção "á frente do aparelho [de uma] pessoa competente" (Cardeal Saraiva, 1 de Dezembro de 1921).
Ilustramos esta pequena nota sobre os alvores da exibição de cinema no Teatro Diogo Bernardes, com uma fotografia do edifício, anterior aos arranjos que lhe deram a configuração actual.

[Foto: Teatro Diogo Bernardes (1990), Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa, amavelmente enviada por Carlos Gomes]

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Pelo Natal, um rio de poesia

O Conde d'Aurora escreve em "Mal Notadas Letras" um texto sobre os poetas da Ribeira-Lima, relatando a noite de consoada de 1949. Uma noite com muita poesia aquecida pelo "raizeiro de velho carvalho", iluminada pelo "clarão da lareira de granito minhoto trabalhado" e tendo como fundo "a toada das janeiras trazidas pelo rancho do Couto", "velha loa de sabor ancestral, popular e litúrgico com ressaibos de ervas aromáticas e toda a frescura da aldeia". Fala-nos de Jorge de Lima e das suas associações poéticas entre o Rio Lima e o Mandaú; escreve sobre Sebastião da Gama e o seu apego à "família do Lima", para terminar epigrafando o Lima como o "rio dos poetas, dos poetas da Ribeira Lima". Eis uma proposta trazida por este Natal, que deixo como sugestão àqueles que têm responsabilidade pelo turismo local: uma caminhada junto ao rio Lima, guiada pela escrita dos poetas limianos.

[Extractos retirados de Conde d'Aurora - Mal Notadas Letras. Crónicas. Porto: Simões Lopes, s/d (1951?)]

Não deixe de ler o Conto de Natal de Carlos Gomes, consultando a página: http://anunciadordasfeirasnovas.planetaclix.pt/conto_natal.html

domingo, dezembro 17, 2006



Escreve, no seu último livro, Claúdio Lima: "dizer por dizer eu já não digo / aprendi comigo / aprendi que as palavras / não são coisas / de pegar e usar" (Itinerarium III, 2006, pág. 35). Tomando como mote esta atitude sábia, Amândio de Sousa Vieira acaba de lançar o opúsculo intitulado "D. Pedro IV e as Feiras Novas". Defendendo uma tese - a atribuição da autorização das Feiras Novas a D. Pedro IV -, o seu trabalho manifesta-se despretencioso mas alicerçado numa bibliografia actual e fundamentado em documentação relevante. Tal como as palavras, os documentos "não são coisas de pegar e usar" para (e tomo, de novo, a poesia de Cláudio Lima) "de pronto fruir e descartar". Amândio de Sousa Vieira respeita os documentos; a sua escola é a da sensibilidade, a mesma que plasma nas suas fotografias, a do saber partilhado com os amigos e com a comunidade. Os documentos e os livros, para Amândio Vieira, não são tesouros que evita revelar com receio de ser roubado; pelo contrário, nomeia as fontes, a bibliografia e os documentos num exercício de verdade. Não tendo ainda realizado uma leitura integral do livro, não posso deixar de notar, desde já, este cuidado. Mas, parafraseado o poeta limiano, "dizer por dizer / é não entender / o conteúdo / como essência de tudo", por isso, voltarei a escrever sobre a tese defendida por Amândio de Sousa Vieira, o "sumo" da sua publicação de uma trintena de páginas.

[Em Cláudio Lima, para além de muitos dos aspectos referenciados por Carlos Gomes no post anterior, encontro a consciência da poesia como construção - acto de elaboração pessoal, atento à poesia edificada pelos outros, e assumidamente "marginal". Os seus poemas são peças buriladas por quem aprende "ao relento / os sinais da poesia" (Itinerarium III, pág. 40)]

quarta-feira, dezembro 13, 2006

ITINERARIUM III ou a poesia segundo Cláudio Lima

Publicamos o trabalho, com o título em epígrafe, que nos foi remetido por Carlos Gomes, regular e profícuo colaborador da revista "O Anunciador das Feiras Novas", a propósito do lançamento do mais recente livro de Cláudio Lima. Abertos à colaboração, não deixaremos de publicar tudo aquilo que, de acordo com a nossa linha editorial, possa ser um contributo para o tratamento e a reflexão de assuntos associados à vida cultural de Ponte de Lima. Obrigado Carlos Gomes por aceitar este desafio de partilha.
Itinerarium III ou a poesia segundo Cláudio Lima

“Itinerarium III” é o mais recente livro de poemas que Cláudio Lima acaba de publicar, o qual encerra uma trilogia poética que o autor iniciou, já lá vão doze anos. Rebelando-se contra o que considera mistificações e equívocos que se apresentam com o rótulo de poesia, recusando tutelas e dogmas estéticos, o poeta encontrou uma passagem para a verdade que existe na poesia, o caminho para a claridade dos sentidos. Ele próprio o afirma num dos seus poemas: “não busques o efeito nebuloso / no teu verso. / cultiva a claridade / de cada palavra / mesmo as de textura / mais opaca. / aprende que é em ti / que pode acontecer / a definitiva noite / do poema. / olha que a prolixidade é um desvio / premeditado e parvo / dos medíocres”.
Com uma indescritível riqueza vocabular que confere maior expressividade às metáforas por si criadas, o poeta busca nas palavras a cor e a densidade que as caracteriza, alternando ritmos e musicalidade. Cláudio Lima revela-se, afirmativamente, um dos mais notáveis poetas alto-minhotos da actualidade, o qual nos reservará por certo, num futuro próximo, novas e mais agradáveis surpresas.
Com considerável obra publicada, sobretudo no domínio da poesia, Cláudio Lima possui ainda vasta colaboração literária espalhada em jornais e revistas também no Brasil e Angola, também nas áreas da ficção, da diarística e da crítica literária, fazendo muitos dos seus trabalhos parte integrante de antologias e obras colectivas. Em 1997 realizou na Casa do Concelho de Ponte de Lima uma conferência alusiva aos cinquenta anos de actividade literária do escritor João Marcos, a qual se encontra publicada em livro. Publicou ainda “A Foz das Palavras”, “Por aqui não é passagem”, “Itinerarium”, “Itinerarium II”, “Maçã pra Dois”, “Vate do Reino”, “Arte de Amar Ponte de Lima”, “Os Morros de Nóqui” e “Um rio de muitas luzes”. Cláudio Lima é o pseudónimo literário de Manuel da Silva Alves, natural de Calvelo, em Ponte de Lima. Possui o curso de filosofia dos seminários franciscanos e, como a maior parte dos jovens da sua geração, viveu a experiência da guerra, tendo sido mobilizado para o norte de Angola, entre 1967 e 1969. Actualmente encontra-se radicado em Braga e é um assíduo colaborador da imprensa da nossa região. Para aguçar o apetite dos leitores para a poesia de Cláudio Lima, deixamo-los com o “soneto do meu desejo”, um dos poemas inserto no livro que acaba de publicar.

daria a minha vida por um verso
que fosse da vida o ápice perfeito
- um verso que não coubesse no universo
fosse embora à medida do meu peito

um só verso luzindo no disperso
desconserto do mundo insatisfeito
que fosse da maldade o puro inverso
e fosse do amor o belo efeito

dez sílabas medidas e não mais
para atestar o desejado enlace
do verbo com o ser, núpcias reais

um verso que esculpisse a exacta face
da esfinge esquiva aos édipos mortais
- um só verso que fosse, mas ficasse
[Texto de Carlos Gomes]

sexta-feira, dezembro 08, 2006

População em Ponte de Lima (IV)


Construído com base nos dados dos Censos, apresentamos um gráfico que revela a evolução do número de fogos nas freguesias de Ponte de Lima, Arca, Arcozelo, Feitosa e Ribeira, entre os anos de 1864 e 1981. As linhas desenham aquilo que é uma evidência: a pressão urbanística sobre as áreas limítrofes à freguesia de Ponte de Lima. Percebe-se um crescimento sustentado da freguesia de Arcozelo, particularmente expressivo a partir da segunda metade do século passado. O abrandamento do crescimento de fogos na freguesia de Ponte de Lima corresponde ao movimento inverso que se verifica nas freguesias em torno do casco da vila. Brevemente, abrangeremos a informação coligida até ao Censo de 2001 e analisaremos, com mais cuidado, este processo.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Na nossa caixa de correio

Coincidente com a comemoração do décimo quinto aniversário da Estudantuna Académica de Ponte de Lima, abrem, no próximo dia 10 de Dezembro, na Casa de Turismo, as exposições "A Tuna de Ponte de Lima", com peças dos barristas Baraças, e “Os últimos trovadores do Lima”, um trabalho do fotojornalista Paulo Teixeira, enriquecido com o texto de Cândido Sobreiro. Com os apoios da Universidade Fernando Pessoa, Fundação Fernando Pessoa e Câmara Municipal de Ponte de Lima, a exposição pode ser visitada até ao dia 29 de Dezembro.
Para se saber mais, consulte: http://atunadepontedelima.blogspot.com/.
Aguçada a curiosidade pela iniciativa da Tuna, não deixaremos de realizar uma visita.
Entretanto, a nossa caixa de correio - anunciadordasfeirasnovas@clix.pt - continua disponível à recepção de informações, divulgação de iniciativas, opiniões e críticas.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (VI)


[A propósito do centenário da Confeitaria e Padaria Vilar, publicamos o anúncio
presente na edição de 1948, de "O Anunciador das Feiras Novas"]

segunda-feira, novembro 27, 2006

Em torno de dois livros



Este fim de semana cruzei-me com um livro de Eduardo Souto de Moura. Trata-se de "22 casas de Eduardo Souto de Moura", recentemente apresentado em Guimarães, no âmbito da exposição com o mesmo nome, que decorreu no Departamento Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho. O livro centra-se no tema da “habitação unifamiliar” e apresenta o percurso de duas décadas deste arquitecto. Entre as habitações descritas, encontramos aquela que já mereceu destaque no nosso post "Arquitectura em Ponte de Lima (I)": duas casas em Ponte de Lima, na quinta de Anquião.
E, por falar em livros, estivemos na apresentação do trabalho de José Ernesto Costa, "Crónicas de um outro tempo". A trilogia completa um trabalho de recolha de marcado cariz nostalgico, onde os "velhos papéis" esteticizados ganham outro valor e as fotografias deixam o carácter de recordação individual para assumirem o papel de documento de outros costumes, artes e sabedorias. Registo, onde se cruzam o "tempo pessoal" e o "tempo da vila", o livro ganha contornos de álbum geracional. No Teatro Diogo Bernandes, recordando as vivências da juventude em torno da exibição das "fitas", por iniciativa do autor, fomos brindados com interesantes interlúdios musicais e leituras de trechos da sua obra.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (V)

[anúncio publicado em 1948]

[anúncio publicado em 1919]

Dois anúncios da Farmácia da Misericórdia. Em 1919, afirmava-se que, sendo "uma das principais da provincia", possuía "um completo e variado sortimento de preparações e especialidades farmaceuticas". O anúncio de 1948, publicado no "O Anunciador das Feiras Novas", chamava atenção dos clientes para o facto de ser depósito das cervejas e laranjadas da Companhia União Fabril Portuense, agente de seguros e vendedor de papel selado.

domingo, novembro 19, 2006

Roteiro sentimental de "outro tempo"

José Ernesto Costa apresenta no dia 25, próximo sábado, no Teatro Diogo Bernardes, o terceiro volume do seu trabalho de cariz memorialista, Crónicas de um Outro Tempo. O convite que nos foi remetido (deixamos, desde já, o nosso agradecimento) inclui a reprodução da capa cujo tema nos remete literalmente para "outros tempos". O cenário não mudou mas as prácticas sociais, os rituais, as sociabilidades tomaram outras configurações. As águas do rio deixaram de ter a mesma impetuosidade; as lavadeiras foram substituídas por máquinas. As conversas e os cantares das "coradeiras" deixaram de acompanhar o sussurar das águas. Os panos estendidos ao longo do areal deram (infelizmente!) espaço a automóveis. Quando é que se libertará o areal desse intruso visual, desse elemento poluente e descaracterizador? Não podemos estar sempre a regressar a "outros tempos", mas do passado não devemos perder aquilo que ele teve de melhor. José Ernesto Costa fala de um "nó" na garganta quando escreve sobre o passado. O presente também traz um "nó" quando nos esquecemos de olhar o passado. A memória é o melhor alicerce do futuro.
[José Ernesto Costa já publicou dois volumes com o título "Crónicas de um Outro Tempo" (2004 e 2005), verdadeiros roteiros sentimentais, onde se cruzam as memórias locais com a memória do autor. É, ainda, autor de Poemas da Terra e do Lima (1996) e Cheia do Rio Lima (2001).]

sábado, novembro 18, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (IV)

A Ordem dos Arquitectos apresentou recentemente o IAPXX - Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal -, uma iniciativa realizada pela referida Ordem em parceria com a Fundació Mies van der Rohe e o Instituto das Artes, co-financiada pelo Interreg III - SUDOE. Segundo os promotores da iniciativa este inquérito "teve como objectivo registar em base de dados digital um levantamento do património arquitectónico construído em Portugal durante o século XX, tornando-o matéria acessível ao público em geral". Concretizado o levantamento, que na região norte foi coordenado por Sérgio Fernandez, o trabalho está disponível no endereço
http://iapxx.arquitectos.pt/.
Realizamos, por estes dias, uma pesquisa à base de dados, procurando as obras de arquitectura de Ponte de Lima que mereceram a atenção da equipa de investigadores. Foi, então, possível verificar que há referência às seguintes obras: Escola Superior Agrária [1987-1993] (ESA, IPVC), de Fernando Távora; Museu Rural [1998-2000] e Centro Naútico [1995-1998], de José Guedes Cruz; Central de Camionagem [2000], cujo arquitecto não é identificado; Campo de Golfe [1993-2000] e Clubhouse [1993-1995], de Jean Pierre Porcher, Margarida Oliveira e Albino Freitas.
Como se verificará não é incluída qualquer obra anterior à fase final do século XX. Terá sido distracção dos responsáveis pelo levantamento ou não haverá qualquer edifício que justifique o registo?
Se aceitarmos a segunda hipótese, estaremos a reconhecer que Ponte de Lima, particularmente o espaço urbano, não esteve sujeita a uma inflação de construção durante quase todo o século XX e que as (poucas) obras realizadas não reúnem qualidades estéticas e formais para serem consideradas num inquérito com aqueles fins. Com efeito, não será difícil encontrar, incrustadas no centro da vila, algumas obras de arquitectura de valor discutível, particularmente da década de setenta e oitenta.
Porém, é legítimo perguntar se não poderiamos enriquecer este acervo de arquitectura do séc. XX. O site da Ordem dos Arquitectos permite o contributo do público. Alguém é capaz de atribuir a obra de arquitectura da Central de Camionagem? Digam-nos quem foi o autor do projecto; nós encarregamo-nos de enviar a informação para a Ordem.

quarta-feira, novembro 15, 2006

[foto:jcml, Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos]

terça-feira, novembro 14, 2006

Na nossa caixa de correio

Recebemos na nossa caixa de correio informação sobre o Seminário "Ponte de Lima, Terra Rica da Humanidade", a realizar no próximo dia 23 de Novembro, no Teatro Diogo Bernardes, que partilhamos com os nossos visitantes.
Segundo o remetente do email, o Seminário, pretende assumir-se como um espaço de discussão crítica e cientifica de intercâmbio de experiências, no âmbito da protecção/valorização do património, contando com a presença de personalidades com experiência reconhecida no âmbito da preservação do património.
Os interessados deverão enviar a sua inscrição (gratuita) até ao dia 17 de Novembro.
Contactos:
Município de Ponte de Lima
Praça da República 4990 – 062 Ponte de Lima
Telefone: 258 900 400 – ext 423
Fax: 258 900 424
terraricadahumanidade@pontedelima.pt

Programa:
9h30 Sessão de Abertura
Daniel Campelo (Eng.º) – Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima; Mário Vieira de Carvalho (Dr.) – Sec. de Estado da Cultura *A confirmar; Adalberto Hiller (Mestre) – Coordenador da Univ. Fernando Pessoa – Unidade de Ponte de Lima
10h00
Painel – “Património, História e Arquitectura de Ponte de Lima”
António Matos Reis (Doutor); Brochado Almeida (Prof. Doutor) e José Marques (Prof. Doutor)
Pausa para café
11h15 Painel – “Espaços Urbanos e Reabilitação Urbana. Património Urbanístico e Reabilitação Urbanística”
Walter Rossa Ferreira da Silva (Prof. Doutor); Carvalho Dias (Prof. Doutor Arq.) e Nuno Ribeiro Lopes (Arq.)
12h15 Debate
12h45 Almoço Livre
15h00 Painel "Património Imaterial"
José Cândido Oliveira Martins (Prof. Doutor); Xosé M. Reboredo (Prof. Doutor) e Álvaro Campelo (Prof. Doutor)
Pausa para café
16h15 Painel "Centros Históricos, Património para o Futuro"
António Vasco Massapina (Arq.); Rui Ramos Loza ( Arq.); D. Francisco Garcia Suaréz (Alcaide de Allariz) e Rosa Mendez (Prof. Doutora)
17h45 Debate
18h00 Sessão de Encerramento
Franclim Sousa (Dr.) – Vereador da Cultura da C.M. de Ponte de Lima; Francisco Sampaio (Dr.) – Presidente da Região de Turismo do Alto Minho e Isabel Escudeiro (Dr.ª) – Assessora da Presidência da CCDRN

sexta-feira, novembro 10, 2006

Chapelarias em Ponte de Lima


Publicamos mais um anúncio de uma chapelaria de Ponte de Lima. No post intitulado "Anúncios de Ponte de Lima (III)", de 8 de Novembro, trouxemos a lume dois anúncios: um, da Chapelaria Europa, de Manuel Carlos da Fonseca, com sede na Rua do Souto; outro, da Chapelaria Flor do Lima, de Artur Silva, na Rua Boaventura José Vieira. Hoje partilhamos com os frequentadores deste espaço o anúncio, publicado no primeiro número do jornal Cardeal Saraiva (15.02.1910), à Chapelaria Progresso, de Francisco Vasques Martins. Segundo o Almanaque de Ponte de Lima (1910) havia duas chapelarias na vila: a Progresso e a Europa.
Os chapeleiros, enquanto operários altamente qualificados, com características muito próximas dos artesãos, viveram no século XIX, de forma pungente, o embate da mecanização do processo produtivo e da importação de chapéus estrangeiros. O crescimento da indústria chapeleira no Norte do país, vivido a partir da década de setenta do século XIX, anunciava a fragilização da posição dos chapeleiros manuais, que passam a ser preteridos por operários indeferenciados e menos qualificados. A máquina roubou o saber aos chapeleiros tradicionais. No comércio local passamos a encontrar com maior frequência os produtos industriais e, cada vez mais, os produtos importados. A moda, por sua vez, encarregar-se-á de contribuir para a gradual extinção deste ofício e deste comércio.
[para conhecer melhor a indústria chapeleira veja-se Maria Filomena Mónica - Artesãos e Operários. Lisboa: ICS, 1986]

quinta-feira, novembro 09, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (IV)

[anúncio da loja Novo Mundo (1919) e imagem de um postal onde é visível a entrada da loja]
Mais do que resultado de um sentimento nostálgico, a publicação de anúncios do comércio limiano, que temos vindo a realizar com alguma regularidade, procura evidenciar a relevância que teria a realização de um estudo, no âmbito da história económica, social e cultural, sobre o comércio na vila de Ponte de Lima. Trabalho abrangente, implicaria um aturado levantamento de informação escrita e iconográfica, cujos resultados, cremos, surpreenderiam.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (III)

[anúncios publicados em 1919]

domingo, novembro 05, 2006

Sobre o comércio limiano_1913

Fevereiro de 1913: a imprensa local dava nota da mudança do estabelecimento de Boaventura José Alves da Praça de Camões para a Rua do Rosário, junto da Papelaria Cruz & Guimarães. Um mês mais tarde, Emílio de Sousa, comerciante vindo de Viana do Castelo, abria uma loja de fazendas na Praça de Camões.
Corria Maio, os jornais anunciavam que a Barbearia Amorim estava "a passar por um importante melhoramento": um mestre local, Joaquim Manuel Lima, executava um "trabalho de talha em estilo arte-nova", qualificado pelo autor daquelas linhas como "verdadeiro mimo" (Cf. Comércio do Lima, 31 de Maio de 1913).
O verão desse ano será marcado pela inauguração da Padaria Amorim, de Manuel Caldas Amorim, filho de Manoel Rodrigues Amorim. A padaria "além da venda de pão" apresenta "um grande sortido de bolacha e doce, bem como uma collecção de vinhos finos e espumosos, cervejas, gazosas, etc." (Cf. Cardeal Saraiva, 14 de Agosto de 1913).
Preparando a chegada do inverno, os jornais de Agosto divulgavam que Sousa Mariano, dos Armazéns de Lisboa, seguia para Lisboa "afim de fazer directamente os sortidos para a proxima estação (...) nas mais importantes fabricas nacionais e estrangeiras" (Cf. Comércio do Lima, 2 de Agosto de 1913).
Alguns limianos defendem que a periodicidade dos mercados devia passar da quinzena para a semana. Em Outubro, a Associação Comercial, de comum acordo com os industriais locais, solicita à Comissão Municipal Administrativa a conversão das feiras quinzenais em mercados semanais (Cf. Cardeal Saraiva, 30 de Outubro de 1913).
Os ritmos da feira continuam marcados por hábitos do mercadejar tradicional. Na segunda rampa ao norte do Passeio Cândido dos Reis, vários comerciantes açambarcadores "atravessam" os ovos, as aves e certos géneros, "chegando a praticar violencias no conseguimento do seu abusivo mercadejar!" (Cf. Cardeal Saraiva, 25 de Setembro de 1913).
[reclamo dos Armazens de Lisboa, de 1919]

quarta-feira, novembro 01, 2006

O Conde d'Aurora procura e gratifica...

Não passa de uma curiosidade (deliciosa!) este anúncio publicado no jornal Cardeal Saraiva de 26 de Maio de 1921: "O Conde d'Aurora declara que entregará cem escudos á pessoa que lhe indicar quem lhe envenenou ultimamente uma cadela Lobo d'Alsacia e que guardará o maior sigilo da indicação". Parece que a gratificação pela informação não terá sido suficientemente atractiva, uma vez que o mesmo apelo foi (re)publicado na edição de 2 de Junho, do mencionado jornal.

Anúncios de Ponte de Lima (II)

[Reclamo da Sapataria de Secundino de Souza Vieira, 1919]

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sobre as cheias no nosso Lima...

A chuva dos últimos dias trouxe à memória as cheias no Rio Lima. Frequentes, marcavam a vida da vila. Marcos da história da localidade, são recordadas ora com um tom amargo, lembrando tragédias e prejuízos, ora com alguma nostalgia. O rio dos poetas ganhava outras feicções...
Em Novembro de 1888, o jornal A Voz do Lima referia que "o nosso Lima, cuja mansidão e limpidez tem inspirado bons poetas, tornou-se torvo, de uma braveza indomita, e assim, como esquecido das suas romanticas tradições invadiu esta villa, como ha muitos annos o não fizera, talvez desde 1880, e os campos e veigas marginaes (...). A enchente rapida, e terrivelmente invasora, surprehendeu muitas casas de commercio, onde fez largas avarias, na rua de S. José, e deixou de si ainda uma mais triste recordação. As oito casas que defrontam com o sul no largo de S. João, cinco das quais são de um só andar, foram todas inundadas".
[com excertos do artigo publicado no A Voz do Lima, 14 de Novembro de 1888, nº 120, 3º ano]

quarta-feira, outubro 25, 2006

População em Ponte de Lima (II)


Dando cumprimento a um propósito iniciado há algum tempo, publicamos o segundo gráfico com a evolução do número de fogos e habitantes na vila de Ponte de Lima, com dados entre 1864 e 1981. A apresentação destes dados carece de um enquadramento que não produziremos de imediato. Contudo, notemos, desde já, que será necessário apontar os critérios assumidos na construção dos inquéritos de levantamento, pelos Censos e pelas restantes fontes consultadas, assim como discutir o conceito de "fogo" que está subjacente, para se poder aferir a fiabilidade dos números.
Fica a promessa de nova apresentação de dados.

domingo, outubro 22, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (I)

Anúncio, publicado no "O Anunciador das Feiras Novas" de 1948, à Pensão Morais, onde se servem "abundantes refeições e vinhos de mesa das mais acreditadas marcas" e se pode usufruir de "magnificos quartos com todo o conforto".

quarta-feira, outubro 18, 2006

O cortejo histórico das Feiras Novas

Encerramos hoje a votação relativa à questão "O Cortejo Histórico das Feiras Novas foi...". Dos 15 participantes, 60% qualificaram o cortejo de fraco, 27% votaram no item satisfatório e 13% afirmaram que não viram. Estas sondagens são reconhecidamente falíveis e não têm (nem poderiam ter) propósitos de análise científica, contudo, são uma nota não negligenciável de participação e de opinião. Corro o risco de escrever algo, expondo algumas ideias.
O cortejo histórico falhou naquilo que é o seu âmago, o guião. Se o propósito era realizar um cortejo centrado no acto comemorativo dos 180 anos das Feiras Novas, esse facto, para além da presença simbólica da Associação dos Bombeiros Voluntários, não teve qualquer visibilidade. Deixo uma questão: não seria digno de circular nas ruas da vila os nomes dos cidadãos ("anónimos", como se costuma dizer) que fizeram as festas no passado, integrando comissões de festas (marcadas pelo amadorismo e "amor à terra")? Ou estaremos sempre agarrados aos "ilustres", às elites e esquecemos a realidade popular que define, em grande medida, a festa.
Não deixarei ainda de notar que não se compreende a exclusão de determinadas festas das freguesias do concelho; qual foi o critério para se evidenciar determinadas festas?
Sendo um cortejo histórico numa festa assente na realização de feira, não seria interessante orientar a apresentação dos quadros de acordo com as feiras do concelho? Depois do livro do Amândio de Sousa Vieira, sabemos que há muita história que não passa apenas pelos momentos fundadores. Um cortejo que fizesse a história da feira e da festa, integrando-a na história de vila e do concelho, ganharia outro dinamismo e os assistentes reconheceriam a sua memória, uma memória colectiva que tem lugar quer para os acontecimentos excepcionais quer para as rotinas e para a vida quotidiana.
Já agora, não seria interessante repensar os carros alegóricos? A sua composição remete para uma "história de conto de fadas" ou para a "carnavalização" da história.
Voltaremos ao assunto.
A partir de hoje pode participar numa nova votação, acedendo através do botão que se encontra no fundo desta página.

terça-feira, outubro 17, 2006

Balanço das Feiras Novas_1908

Não deixa de ser interessante o exercício de confrontar diferentes visões sobre um mesmo acontecimento. Em 1994, escrevemos um artigo no "O Anunciador das Feiras Novas" (ano XI), intitulado "As Feiras Novas no princípio do século" [leia-se séc. XX], no qual traçavamos uma imagem dos festejos assente, em grande medida, nas notícas publicadas na imprensa local. No ano que nos serve de referência, 1908, a imprensa notou o entusiasmo com os preparativos, a chegada de forasteiros e o empenho mobilizador da comissão encarregue da organização da festa, que apelava aos habitantes da vila para "endandeirarem suas casas" (Cf. Eco do Lima, 17.09.1908). Para o leitor fica a sensação de uma preparação dos actos festivos bem sucedida, o que na época, por vezes, se tornava difícil. A leitura do excerto da notícia de "O Commercio do Lima", de 26 de Setembro de 1908, publicado no excelente trabalho de recolha documental e fotografia de Amândio de Sousa Vieira, Feiras Novas 1826-2006, adensa a sensação dos festejos terem correspondido às expectativas criadas. Dizia-se que "o programa foi cumprido fielmente, apenas com a falta, cujo motivo se ignora, do grupo de bailarinas espanholas" (Cf. Feiras Novas 1826-2006, pág. 41). Porém, descentralizando o nosso olhar e consultando a imprensa de outras povoações, percebemos que a leitura é completamente diferente. Denotando outras formas de ver, talvez marcadas por rivalidades locais, o jornal O Independente, considerava que as "festas das Dores" tinham sido "desanimadissimas". Para o articulista, "aproveitavel de todo o programa, só achamos as illuminações e o fogo, de resto um pepineira. As touradas foram o que se chama um verdadeiro fiasco, que certamente não deixaria de envergonhar a commissão". Facto que não estranha, uma vez que "é sempre assim, quando se fazem touradas em Ponte de Lima é só com gado manso". A conclusão, dura, contrasta claramente com a impressão que nos criava a imprensa limiana: "As festas n'aquella villa desmerecendo cada vez mais, não estarão longe de terminarem de uma vez para sempre, o que é mais razoavel do que andar a enganar o forasteiro com espaventosos reclames".
Se é certo que, quanto ao fim da festa, a história foi mostrando que o articulista estava enganado, não deixa de ser relevante notar que a construção do conhecimento histórico implica a crítica e o cruzamento das fontes, portadores de leituras mais ricas, capazes de dar nota da complexidade da realidade. Aquilo a que vamos chamando "limianismo" não se deve transformar num olhar centrado no umbigo; ganhamos todos quando somos capazes de o assumir como uma forma de ler a realidade local imbricada numa teia social e cultural complexa. Há, portanto, um longo trabalho a realizar na historiografia local que ultrapasse as leituras assentes na cronologia, no simples somatório de factos e na concentração nas "grandes individualidades". Comungo, portanto, uma das observações de Carlos Gomes a um dos meus posts (ver post de 25.08.06): é bom ver a entrada de novas abordagens na história local limiana.

sexta-feira, outubro 13, 2006

A partir de hoje tem disponível um novo meio de contacto com o autor deste blogue: anunciadordasfeirasnovas@clix.pt. Endereço aberto a sugestões, críticas, opiniões e envio de propostas de publicação.
Divulgue o blogue e o endereço de correio electrónico a um amigo!

quinta-feira, outubro 12, 2006

O Teatro D. Fernando, uma morte anunciada (II)

A vereação camarária de Ponte de Lima havia, em 1869, anos antes dos incêndios trágicos do Teatro da Trindade e do Teatro do Baquet, chamado a atenção da Administração do Concelho para a situação de segurança precária do Teatro D. Fernando. De acordo com um ofício conservado no Arquivo Municipal de Ponte de Lima, “achando-se colocado nos baixos d’esta caza [Câmara Municipal] um Theatro, no qual se dão espectáculos públicos em que se queima fogo de artificio, e nos ensaios se fuma sem a menor cautela, estando este edifício em eminente risco, e tanto assim que nas representações, que uma companhia há pouco estacionada n’esta villa, foi mister collocar a bomba e empregados d’ella junto do Theatro por se receiar algum incêndio", a vereação, por unanimidade, deliberou representar junto do Administrador do Concelho para que não permitisse "representações enquanto se não por fiança, ou de caução sufficiente no valor d'esta caza da Câmara, e seu archivo e documentos d’ella, caza de tribunal judicial, caza da administração, da Fazenda, e do telegrapho". A segurança do edifício, legítima preocupação dos membros da Câmara Municipal, pode, contudo, "encapotar" uma outra razão para o "cerco" ao Teatro D. Fernando: a necessidade de controlar expressões teatrais consideradas censuráveis pelas elites. Num período de afirmação do ideário burguês e da ideia de Estado-nação, a censura teatral encontrava suporte legal e no "bom gosto". A alegação de questões de segurança serviu, muitas vezes, veladamente, para censurar uma forma de estar no teatro mais "popular".
[com excertos do ofício ao Administrador do Concelho, 27 de Julho de 1869]

terça-feira, outubro 10, 2006

Festival de Jardins_2006






















A flor tem a linguagem de que a sua semente não fala.
A raiz não parece dar aquele fruto.
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem.
Retirada a linguagem
a semente é igual a flor
a flor igual a fruto
fruto igual a semente
destino igual a devir.
E era o que se pedia: igual.

José de Almada Negreiros (1893-1970), Poemas.


Tem, apenas até ao dia 30 de Outubro, a possibilidade de se confrontar com os jardins do Festival deste ano. Estaremos perante projectos de arte com jardins ou projectos de jardins com arte ou, ainda, com espaços hibrídos característicos dos tempos que correm, onde as clássicas fronteiras entre arte e jardim se diluem?

[foto: jcml, aspecto do jardim "A Música da Horta", Festival de Jardins, 2006]

sexta-feira, outubro 06, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (III)

Para os interessados em arquitectura e na sequência do nosso post intitulado "Arquitectura em Ponte de Lima (II)", publicado em 15.09.2006, deixamos mais uma nota bibliográfica sobre a obra de Eduardo Souto de Moura (n. 1952). Trata-se da revista temática ELcroquis (nº 124, 2005) dedicada àquele arquitecto, onde é mencionado o trabalho desenvolvido na Quinta de Anquião, duas moradias situadas num terreno com declive acentuado.

[reprodução da capa da revista El Croquis, nº 124, 2005; para conhecer esta revista de arquitectura deve aceder a www.elcroquis.es]

quinta-feira, outubro 05, 2006

O Teatro D. Fernando, uma morte anunciada.

Em Março de 1888, deflagrou um incêndio no Teatro Baquet, no Porto, que vitimou dezenas de pessoas, produzindo na opinião pública um sentimento de tragédia. Não era a primeira vez que ocorria um incêndio numa sala de teatro naquela cidade. Alguns anos antes, em Julho de 1875, o Teatro da Trindade ficou reduzido a cinzas. Estes acontecimentos alertaram a opinião pública e as autoridades, quer do poder central quer dos municípios, para os problemas de segurança nestes espaços de cultura e divertimento. Ponte de Lima não ficou alheia a esta preocupação. Em 1879, a Câmara Municipal de Ponte de Lima, tendo "sido annunciado no dia de hontem no Commercio do Lima bailes públicos no Teatro de Dom Fernando" e "estando o mesmo fichado á annos pelo motivo de que pode darse um caso de insendio", solicitava ao Administrador do Concelho que tomasse as medidas necessárias para "não consentir taes bailes no mesmo Theatro” (Arquivo Municipal de Ponte de Lima, Livro de actas camarárias, 6 de Fevereiro de 1879). Na sequência da tragédia no Teatro Baquet, foi publicada uma portaria que estabelecia a realização de inspecções e a concretização de obras por parte dos proprietários dos edifícios onde se realizavam espectáculos cénicos. Impressionado pelos acontecimentos, o editorialista do jornal "A Voz do Lima" publicava, no dia 28 de Março, um artigo onde se defendia que o Teatro D. Fernando constituía um perigo. Dizia-se que "o nosso theatro, pequeno e acanhado, com uma sahida apenas, com uns corredores por onde só cabe uma pessoa, n'um caso de sinistro, será o causal de tudo lá ficar". Numa edição posterior (11 de Abril), o jornal reconhecia que não tinha clamado "no dezerto" a sua "voz quando fallamos em que se devia ser condemnado, expropriado até, o nosso pequeno Theatro D. Fernando". Para o autor daquelas linhas, não bastaria encerrar o espaço - "outros dias, outras politicas, empenhos valiosos e lá teremos o mesmo perigo" - era necessário que Ponte de Lima se empenhasse na "completa extincção do theatro" e na construção de um outro "em melhores e mais seguras condições". Perfilhava-se um caminho para o nascimento do novo teatro em Ponte de Lima - o Teatro Diogo Bernardes.

[fontes: Arquivo Municipal de Ponte de Lima e jornal "A Voz do Lima"]
[foto: Teatro Baquet, gravura, Nogueira da Silva, 1863 in Arquivo Pitoresco, v. VI, Lisboa 1863, p. 257]

sexta-feira, setembro 29, 2006

A partir de hoje este blogue passa a ter uma nova funcionalidade: votações periódicas sobre temas da actualidade limiana. De igual modo, manteremos a possibilidade de avaliar o conteúdo geral deste espaço. Participe! No fim desta página encontra um botão com uma caixa de voto, carregue e responda às questões levantadas.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Ponte de Lima e o poeta Charles Tomlinson

Um poema de Charles Tomlinson (n. 1927) escrito em Ponte de Lima, na Quinta do Baganheiro:

ALTO MINHO

Não, não é esse lago entre rochedos...
Pessoa
Abelhas movem-se entre o rosmaninho e a rosa.
As laranjas estão à espera da apanha.
Os cunhais de granito perto da eira,
A inscrição da marca rúnica do pedreiro
Pedem clarificação pelo sol oculto.
(Mais tarde, este despontará ao longo do rio
Para mostrar até onde as águas da enchente chegaram
E mancharam com lama as folhas mais baixas das árvores
Da cor da pedra, uma franja pétrea reflectindo-se
Na calma logo abaixo delas...)
Aqui o pão e a realidade estão reconciliados
Pela excelência do milho, dos pedaços barrados.
Estamos a comer mel numa casa de granito.
[extraído de Monteiro, Manuel Hermínio (dir) - Rosa do Mundo. 2001 poemas para o futuro. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, pág. 1667 e 1668]
[para saber mais sobre Charles Tomlinson:

quarta-feira, setembro 27, 2006

Obras de Luis de Sousa Dantas na Biblioteca do Congresso Americano

Sabia que as obras de Luis de Sousa Dantas (n. 1946), Bolero (1974) e Pedras Verdes (1970), fazem parte do acervo da Biblioteca do Congresso Americano?
Segundo o responsável pela "The Library of Congress", a biblioteca "it is the largest library in the world", com "mais de 29 milhões de livros e outros materiais impressos, 2.7 milhões de gravações, 12 milhões de fotografias, 4.8 milhões de mapas e 58 milhões de manuscritos". Um dos objectivos da Biblioteca é preservar, e legar às gerações vindouras, uma colecção do conhecimento e da criatividade universal.
No sítio da Biblioteca do Congresso (http://www.loc.gov/index.html) é possível proceder a pesquisas segundo diversos itens. Experimentem uma pesquisa básica usando a palavra "Ponte de Lima" e, para além das referidas obras, encontrarão referência a trabalhos de Matos Reis, Amélia Aguiar Andrade, Humberto Baquero Moreno, Laurinda Fernandes Carvalho e ao Almanaque de Ponte de Lima.

População em Ponte de Lima

Estamos a (re)construir a evolução da população de Ponte de Lima. Regularmente, daremos notícia do processo.


segunda-feira, setembro 25, 2006

Feiras Novas_1865


O jornal O Lethes noticiava os actos festivos de Setembro, em Ponte de Lima, da seguinte forma:

"No dia 20, teve logar na egreja matriz a solemne funcção da muito milagrosa imagem de Nossa Senhora das Dôres. A missa cantada foi acompanhada a instrumental. Houve exposição e sermão, em que o revº Fr. Manoel do Amor Divino teve mais uma occasião de patentear os seus excellentes dotes oratorios. A noute antecedente ao dia da festa foi abrilhantada por um bello fogo do ar e preso, ouvindo-se nos intervallos a excellente banda de musica do snr. Manoel Dantas e Sousa".

[foto: jcml, imagem de Nossa Senhora das Dores, Igreja Matriz de Ponte de Lima]
[texto: O Lethes, 22 de Setembro de 1865]

domingo, setembro 24, 2006

Ponte de Lima_1867

Número de fogos: 512
População: 2008 habitantes.


quarta-feira, setembro 20, 2006

Uma "farpa" de Ramalho Ortigão


"Em Ponte de Lima, a ponte que deu o nome à vila é um dois mais antigos monumentos do seu género em Portugal. Assenta em vinte e quatro arcos, dos quais dezassete em ogiva.
Foi reconstruída primeiramente por D. Pedro I, talvez sobre a ponte romana da época da via militar de Braga e Astorga, e depois por D. Manuel. Era entestada por duas belas torres, uma do lado de Arcozelo, outra do lado da vila, a que dava entrada por uma porta ogival. As guardas da ponte, assim como as duas torres, eram guarnecidas de ameias.
Com essa forma se conservou este curioso monumento até 1834. Depois, com o regime liberal, veio uma vereação que mandou arrasar as duas torres; e outra vereação, não querendo ficar atrás da primeira, mandou serrar as ameias que coroavam as guardas! O cinto de muralhas, com as suas cinco portas, as suas torres e as suas barbacãs, com que D. Pedro I fortificou a vila reedificada no século XIV, não caiu também inteiramente de per si, foram ainda vereações municipais que sucessivamente se encarregaram de o fazer desaparecer.
O poder central, em sua alta e suprema indiferença pelos mais estúpidos atentados de que são objecto os monumentos mais vuneráveis da arte e da história nacional, aprovou a uma por uma todas as marradas de preto-capoeira com que à municipalidade de Ponte de Lima aprouve derribar e destruir os mais belos vestígios arquitectónicos da gloriosa história da antiga vila e o próprio sentido heráldico das suas armas, nas quais em escudo de prata figura uma ponte entre duas torres."
Ramalho Ortigão (1836-1915)
O excerto é mais um elemento para a reflexão em torno das alterações arquitectónicas e urbanísticas que se vão processando em Ponte de Lima, à semelhança de outras localidades. Uma das intenções dos homens do século XIX era promover a higienização dos espaços urbanos, cuidando da salubridade, eliminando focos de imundície e espaços lúgrubes, promovendo o "arejamento" dos arruamentos, estabelecendo planos de alinhamento, corrigindo o traçado das ruas... Aparentemente tudo boas razões para a destruição de parcelas das muralhas medievais! Porém, Ramalho Ortigão olha para os factos de outro modo - a vaga modernizadora não pode recusar a conservação do património local. O debate é actual, embora se formule noutros termos e as razões do "bom gosto" tenham outras configurações. Não deixa de ser interessante notar a comunhão entre o poder local e o poder central na "cegueira" denunciada por Ortigão.
Como é óbvio regressaremos ao tema.

[Excerto de As Farpas. Lisboa: Clássica Editora, 1986. Tomo I, pág. 44-45]
[Foto de Ramalho Ortigão: Photographia Contemporanea In O Contemporaneo, Lisboa 1881, nº 100; foto: jcml]

terça-feira, setembro 19, 2006

Feiras Novas 2006: duas notas
















Nota positiva: o novo ordenamento dos comerciantes na Avenida dos Plátanos. Ganharam a segurança, o comprador (e provavelmente, o vendedor), o visitante que procura usufruir a paisagem ou simplesmente deambular sem o aperto asfixiante de outros anos.

Nota negativa: a Comissão de Festas e a Câmara Municipal devem cuidar da limpeza regular das áreas mais concorridas, distribuir mais wc's (sinalizando-os), colocar mais recipientes de depósito de lixo, apelar ao visitante para o respeito pelos espaços ajardinados, utilizar a amplificação sonora para fazer chegar a mensagem da educação ambiental (que deve ser, também, preocupação no período festivo).

Voltaremos ao assunto.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (II)



A revista Arquitectura Ibérica dedica o seu 13º número ao Comércio/Lazer, reservando algumas das suas páginas para o trabalho criado, em Ponte de Lima, pelo arquitecto José Manuel Castro Carvalho Araújo (n. 1961) - o mercado/feira do gado (projecto de 2001/2005). Este será um dos palcos das Feiras Novas, uma vez que para aquele local foram remetidos o concurso pecuário (Sábado, 8.30 horas), a corrida de garranos (Sábado, 15 horas) e, revelando a polivalência do espaço, parte da animação nocturna. O mercado/feira do gado é um projecto que se evidencia pela simplicidade, pela sobriedade e pelo encaixe paisagístico, com interessantes prolongamentos da realidade envolvente. A recente atribuição da denominação de Expolima patenteia uma vontade de tornar o espaço aberto a outras iniciativas para além da comercial. A configuração do complexo arquitectónico e o seu contexto potenciam a polivalência de usos.

[foto: reprodução da capa da revista Arquitectura Ibérica, nº13, Comércio/Lazer, editada em 03/2006, pela Caleidoscópio]

quinta-feira, setembro 14, 2006

Nas vésperas das Feiras Novas (1901)



O jornal "A Semana", há precisamente 105 anos, registava, tendo como horizonte as Feiras Novas, que "Ponte de Lima transforma-se, transfigura-se! Da sua normal pacatez, surge como por encanto, o phantastico tumultuar d'uma população galvanizada pela febre do praser." Para o articulista, "o entusiasmo era geral", acrescentando: "Podera... não que as festas do equinocio são a despedida do verão e passadas ellas, adeus noites calmosas da avenida, deliciosas noites de luar; calar-se-hão os rouxinoes, da outra banda e começarão as longas noites de tedio, na sancta paz do borralho...". A avenida, nesse ano, seria iluminada com "grandes globos de vidro para illuminação a luz acetylene, produzindo o effeito d'arcos voltaicos". O cenário estava preparado, a ansiedade agudizava-se... Hoje, como ontem, apetece dizer: "toca a gosar n'estes dias".

[texto construído com base na notícia publicada no jornal "A Semana", de 14 de Setembro de 1901 (nº 478, ano X)]

[foto: jcml, aspecto do areal em Maio de 2006, nas comemorações dos 180 anos das Feiras Novas]

sábado, setembro 09, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (I)

Nascido em 1952, Eduardo Souto de Moura é um dos arquitectos mais conhecidos e notáveis do país. Trabalhou com Álvaro Siza Vieira (n.1933) e na sua obra é evidente a influência de Mies van der Rohe (1886-1969). Ponte de Lima abriga uma das suas obras de referência: 2 casas situadas na Quinta de Anquião. Trata-se de um projecto de 2001, executado entre 2001 e 2002. O livro "Eduardo Souto de Moura. Habitar", editado pela Caleidoscópio (2004), utiliza na capa uma fotografia, de Luis Ferreira Alves, com um pormenor das casas. No interior, podemos encontrar fotografias, alçados, cortes e esquissos do autor. O grupo de habitações, quase escultórico, encontra-se implantado num terreno muito inclinado, na proximidade do Campo de Golfe de Ponte de Lima.



[fotografia: montagem da reprodução da capa, foto do autor e do conjunto de casas]
[para ler: José Manuel das Neves - Eduardo Souto de Moura. Habitar. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2004]

quarta-feira, setembro 06, 2006



Ainda com cheiro a tinta, chega-nos a capa da vigésima terceira edição de "O Anunciador das Feiras Novas". Remetendo-nos para a comemoração dos 180 anos das Feiras Novas, a composição da capa estabelece uma ligação entre o passado e o presente, dando conta de continuidades - o aglomerado de homens e mulheres, as decorações... - e mudanças - os gigantones recentemente criados, que se tornaram uma das marcas dos festejos. A sobriedade de toda a capa encontra contraponto no colorido do Largo. E se à imagem fosse possível juntar o som, a caixa aberta deixaria transpor a algazarra dos forasteiros, o estrondear dos bombos ou os acordes da Banda. Contudo, no passado como no presente, o elemento central das festas são as pessoas esfervilhando - comprando, dançando, cantando, bebendo e comendo - sob o olhar atento do granito das antigas muralhas e dos arcos da ponte, que abraçam um extenso areal acariciado pelo remansoso rio Lima.

domingo, setembro 03, 2006

Revisitar os espaços d' "O Anunciador das Feiras Novas" de 1948 (I)

A edição de 1948, segundo número e último da primeira série de publicação, incluía uma página, que reproduzimos, sobre a Igreja do Senhor da Saúde, na freguesia de Sá.
Revisitamos aquele local de culto e verificamos que as tradições religiosas se mantêm vivas... Não era dia de festa, mas um homem, com um lenço regional na cintura, cumpria uma promessa. No recinto do Santuário ainda é possível encontrar mortalhas, velas e círios para o cumprimento daquele tipo de prática religiosa.
Junto ao altar com a imagem do Senhor da Sáude encontram-se pagelas onde se anuncia a romaria. À semelhança da edição de 1948, as pagelas publicitam a romaria "que se realiza todos os anos e nos primeiros sábado e domingo do mês de Agosto". Dizia "O Anunciador" que era a "mais afamada e concorrida romaria do concelho de Ponte de Lima, aonde dos visinhos concelhos de Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Paredes de Coura, acorrem milhares de pessoas". Coincidência: um táxi de Arcos de Valdevez aguardava a conclusão da visita do templo pelo seu cliente.
Junto ao Santuário é possível usufruir de um parque de merendas arborizado, onde pontificam velhos carvalhos e outras árvores de grande porte. O recinto do Santuário está repleto de oliveiras provectas e o templo revela asseio e cuidado. Uma das suas colunas denuncia inscrições que o tempo (ou a acção humana) deliu. A construção revela um carácter popular.


segunda-feira, agosto 28, 2006
















Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá.

[António Ramos Rosa, O Aprendiz Secreto. Vila Nova de Famalicão: Edições Quasi, 2001]
[foto: jcml, pormenor da Fonte de S. João, Largo de S. João, Ponte de Lima]

sexta-feira, agosto 25, 2006
















Ver num grão de areia o mundo
numa flor um céu profundo
ter na mão a infinidade,
num minuto a eternidade...



[William Blake (1757-1827)]
[fotografia: jcml]


"O Anunciador das Feiras Novas" é uma publicação periódica fundada por Augusto de Castro e Sousa, em 1947, e reeditada por Alberto do Vale Loureiro, a partir de 1984. A capa reproduzida corresponde ao primeiro número da segunda série. Augusto de Castro e Sousa editou dois números. A actual série vai no 22º número publicado.
O blog toma o nome da revista e pretende cumprir na blogosfera a sua linha editorial: divulgação da cultura e da arte limiana. Como é natural, não terá uma edição anual, à semelhança da publicação em papel, mas actualizar-se-á sempre que a vida de Ponte de Lima e do autor dos post se cruzar. Para saber mais sobre a revista "O Anunciador das Feiras Novas" acede ao seguinte endereço:
http://anunciadordasfeirasnovas.planetaclix.pt/pontelima.html

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