A vereação camarária de Ponte de Lima havia, em 1869, anos antes dos incêndios trágicos do Teatro da Trindade e do Teatro do Baquet, chamado a atenção da Administração do Concelho para a situação de segurança precária do Teatro D. Fernando. De acordo com um ofício conservado no Arquivo Municipal de Ponte de Lima, “achando-se colocado nos baixos d’esta caza [Câmara Municipal] um Theatro, no qual se dão espectáculos públicos em que se queima fogo de artificio, e nos ensaios se fuma sem a menor cautela, estando este edifício em eminente risco, e tanto assim que nas representações, que uma companhia há pouco estacionada n’esta villa, foi mister collocar a bomba e empregados d’ella junto do Theatro por se receiar algum incêndio", a vereação, por unanimidade, deliberou representar junto do Administrador do Concelho para que não permitisse "representações enquanto se não por fiança, ou de caução sufficiente no valor d'esta caza da Câmara, e seu archivo e documentos d’ella, caza de tribunal judicial, caza da administração, da Fazenda, e do telegrapho". A segurança do edifício, legítima preocupação dos membros da Câmara Municipal, pode, contudo, "encapotar" uma outra razão para o "cerco" ao Teatro D. Fernando: a necessidade de controlar expressões teatrais consideradas censuráveis pelas elites. Num período de afirmação do ideário burguês e da ideia de Estado-nação, a censura teatral encontrava suporte legal e no "bom gosto". A alegação de questões de segurança serviu, muitas vezes, veladamente, para censurar uma forma de estar no teatro mais "popular".
[com excertos do ofício ao Administrador do Concelho, 27 de Julho de 1869]
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