quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Carros e toques de corneta em Ponte de Lima

Publicamos uma pequena notícia, constante no jornal A Voz do Lima, de 6 de Maio de 1892 (6ºano, nº 296), que toma, hoje, feicção de curiosidade e carácter pitoresco, mas simultaneamente, permite-nos perceber o quotidiano urbano nos finais do século XIX: "Pede-se aos srs. conductores de carros, para não darem o signal de partida ou de chegada, o não façam tocando constantemente porque isso alarma deveras os moradores d'esta villa pelo facto de esse toque se coadunar com o alarme d'incendio, produzido pela corneta dos voluntarios d'esta villa, e mesmo porque a certas horas torna-se incommodativo. Esperamos ser attendidos".

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Arquitectura em Ponte de Lima (VI)

[Excerto do prospecto da Exposição Itinerante "Habitar Portugal 2000.2002", organização da Ordem dos Arquitectos, onde surge, com o número 49, o Mercado Municipal de Ponte de Lima, projectado pelo arquitecto José Guedes Cruz]
Para memória, reproduzimos o texto da autoria de José António Bandeirinha, constante no mesmo prospecto, que justifica a selecção destes trabalhos: "(...) Era necessário escolher obras abertas ao público, que, através desta escolha, fossem publicitadas, para poderem vir a acolher ainda mais público. Esse mesmo público, que as olha como espaços da funcionalidade quotidiana, é então convidado a apreciá-las como obras de Arquitectura. (...) Do litoral para o interior, foram escolhidas obras em Viana do Castelo, Santo Tirso, Ponte de Lima, Braga [três], Guimarães [duas], Vila Real e Peso da Régua. Cinco dessas obras são de promoção privada, quatro são de promoção pública e uma é de promoção mista. Nenhuma delas será um marco de referência absoluta, nenhuma irá, sequer, assumir qualquer tipo de valor modelar perante os sistemas de imitatio que regulam as práticas arquitectónicas. Também não têm essa ambição e essa é, porventura, a sua primeira grande virtude. São apenas isso, dez obras que, por razões muito diversas entre si, têm um significado representativo da Arquitectura praticada naquele território, durante um determinado espaço de tempo. (...) São projectos que, independentemente da radical diferença dos contextos, elegeram como tema primordial a procura do equilíbrio entre a resposta ao programa e a consolidação da ordem urbana. (...) Dez obras. Dez obras evocadas com o propósito de celebração do Ano Nacional da Arquitectura 2003. Dez obras seleccionadas em circunscrição que não podia ser mais clara: localização nos distritos a norte do Douro, excepto Área Metropolitana do Porto, acabadas, ou inauguradas, entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2002. Ei-las."

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O Teatro Diogo Bernardes e o Carnaval_1908 e 1922-25


O Carnaval de 1922 decorreu, em Ponte de Lima, “sem entusiasmo algum”. Segundo o jornal Cardeal Saraiva “apenas o baile de terça feira sobressaiu pela concorrência que teve” (Cardeal Saraiva, 2 de Março de 1922). O discurso da decrepitude do Carnaval não era novo, mas os anos vinte parecem particularmente insatisfeitos com a forma como decorrem aqueles festejos. Em 1923, o jornal Rio Lima registava que “o Carnaval, ano a ano vai perdendo a sua alegria e esses tradicionais dias de alegria e folguedo, quasi se tornam um parêntesis de tristeza e ociosidade na rotina do trabalho” (Rio Lima, 18 de Fevereiro de 1923). Como fazem notar os jornalistas, o centro da diversão é o Teatro Diogo de Bernardes: “entre nós, pelas ruas, quasi não se deu pela sua passagem, apenas os bailes do teatro tiveram a habitual animação” (Rio Lima, 18 de Fevereiro de 1923). Em 1925, como referimos no nosso post de 17.01.07, João Seara, vende serpentinas, “lança perfumes” e “confeti” no interior do Teatro (Rio Lima, 22 de Fevereiro de 1925). Já em 1908, os cronistas locais faziam referência à regularidade do concurso aos bailes que ali se realizavam, numa sã rivalidade com os levados a efeito “num salão dos baixos da casa do Sr. Joaquim Valle, no Arrabalde, para tal fim alugado a uma comissão” (Eco do Lima, 23 de Fevereiro de 1908). “As commodidades que o Theatro proporciona” seriam, para o articulista limiano, “garantia de uma grande concorrência do nosso povo folgosão que alli procurará recreio durante algumas horas” (Eco do Lima, 1 de Março de 1908). No sentido de incentivar a presença de mascarados, a comissão organizadora anunciava um prémio “ao melhor mascara que se apresente”: uma aliança de ouro (Eco do Lima, 1 de Março de 1908).

terça-feira, fevereiro 13, 2007

A Batalha da Jutlândia no Teatro Diogo Bernardes




Em Maio de 1922, o jornal Cardeal Saraiva anunciava a exibição dos filmes "Por Amor", "No Electrico", "Maldito Disfarce" e "Batalha de Jutlandia". Este último retratava o histórico combate naval entre a Grã-Bretanha e a Alemanha, que teve lugar em 31 de Maio de 1916. A batalha inconclusiva é um dos momentos militares mais emblemáticos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A frota britância perdeu catorze navios e a alemã onze vasos de guerra. Os Ingleses, contudo, mantiveram o controlo do Mar do Norte, palco do confronto.
O filme exibido terá sido, muito provavelmente, da autoria de Bruce Woolfe (1888-1965), produtor e realizador inglês. Trata-se de uma curta metragem, de 1921, muda, a preto e branco. Segundo o sítio http://www.navynews.co.uk/cinema/realengagements.asp, o filme teria trinta minutos e seria "the first of a number of features made by British Instructional Films about major land and sea engagements of WW1, using archive material, animated maps and specially shot scenes". No fundo, tratar-se-ia mais de um documentário, que na época eram comuns, nas telas do cinema. A "actualidade" ia chegando a Ponte de Lima.


[Fontes: jornal Cardeal Saraiva, 25 de Maio de 1922; sítio referido no corpo do texto e http://www.imdb.com/title/tt0264398/ (ficha técnica do filme "A Batalha da Jutlândia", de H. Bruce Woolfe); foto: imagem da época retratando o combate naval]

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Octavio Feuillet e Vidocq no Teatro Diogo Bernardes



O jornal Cardeal Saraiva, na edição de 20 de Julho de 1924, anunciava a apresentação no Teatro Diogo Bernardes do "drama de Octavo (sic) Feuillet", segundo a versão de Camilo Castelo Branco, intitulado "A história de um rapaz pobre". Octavio Feuillet (1821-1890) foi um romancista e dramaturgo francês, escritor popular na segunda metade do século XIX. O seu trabalho revela um carácter burguês e moralista que era, na época, do agrado geral, uma vez que, como afirmou Gustave Flaubert "la basse classe croit que la haute classe est comme ça" (a classe popular crê que a classe alta é assim) e "la haute classe se voit là-dedans comme elle voudrait être" (a classe alta vê-se lá dentro como gostaria de ser). "Le roman d’un jeune homme pauvre" (1858) foi traduzido por Camilo Castelo Branco e editado pela António Maria Pereira, em 1907, numa edição popular. A capa que reproduzimos é de uma edição posterior da responsabilidade da Livraria Civilização, de 1959. O fulcro da narrativa é, como não poderia deixar de ser, atendendo ao contexto da época, um amor desencontrado, carregado de dramatismo, que termina num final feliz. A obra terá tido tradução em oito filmes, sendo o mais recente de Ettore Scola (1995).



No mesmo ano, em Novembro e Dezembro, foram exibidas fitas com o título "Vidocq", cognominado pela imprensa local, como "o rei dos policias". Eugène-François Vidocq (1775-1857) é uma figura histórica, com uma biografia pontuada pela aventura, particularmente marcante no imaginário popular francês. Não sabemos que filme foi exibido: há uma curta metragem de 1909, de Gerárd Bourgeois, e um trabalho de 1922, de Jean Kemmin, cuja exibição julgamos mais plausível, uma vez que a notícia de Dezembro, aponta para o fraccionamento em episódios. O cartaz que reproduzimos é desta última produção, da Pathé Consortium Cinéma. O filme foi exibido na mesma sessão em que se viu "Charlot nas trincheiras", a que nos referimos em post anterior (29.12.2006).
[Fontes: jornal Cardeal Saraiva de 20 de Julho, 23 de Novembro e 7 de Dezembro de 1924; sítio http://fvidocq.free.fr/menudyn.html. Edições referidas no texto: Feuillet, Octave - O Romance de um rapaz pobre. Lisboa: António Maria Pereira, 1907. Trad. Camilo Castelo Branco. Edição popular. Obras de Camilo Castelo Branco. 66; Feuillet, Octave - O Romance de um rapaz pobre. Lisboa: Livraria Civilização, 1959, Colecção Civilização (de que reproduzimos a capa); fotos: retrato de Octave Feuillet, capa do livro citado, cartaz do filme de Ettore Scola (1995); retrato de Eugène-François Vidocq, cartaz do filme de 1922, de Jean Kemmin]

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