domingo, setembro 28, 2008

"Samiguel" de Cabaços

O "Samiguel" de Cabaços funde, de forma harmoniosa, diversas dimensões do acto festivo. Se, por um lado, dá continuidade a um dos cultos cristãos mais antigos e populares (o culto ao arcanjo S. Miguel), por outro lado remete-nos para a transição do século XIX para o século XX, através dos trajes que a maior parte dos participantes enverga. Festa com um fundo sagrado, claramente cristã, o "Samiguel" de Cabaços actualiza, todos os anos, o mote dos cestos (a sua exposição decorre até ao próximo dia 5 de Outubro). Este ano a temática centra-se na figura de S. Paulo e no "Ano Paulino". Sem música gravada, as amplificações sonoras servem o leilão. As concertinas têm lugar garantido. Não há "cachorros", "farturas" e patrocínio de cervejeiras. À venda encontram-se (apenas) os produtos da terra. O adro da Igreja é engalanado com "os frutos novos". Há alegria, mas contida. Não há excessos. A população parece empenhada num esforço comum. Este ano divisamos mais visitantes e o trânsito mais complicado. O desafio para os organizadores será manter a "originalidade"; manter, como afirmam no prospecto do anúncio, "uma festa diferente das outras!".

domingo, setembro 21, 2008

Retrato das Feiras Novas 2008 (I)

A noite de todas as danças


A noite de todos os cantos

Sem comentários...

Alex, comentando o nosso post de 8 de Setembro, chama a atenção para o facto de "na primeira foto o sinal de trânsito apenas proíbe[ir] acampamentos e caravanas, não proíbe auto-caravanas, que tem um estatuto completamente diferente". Agradeço o seu comentário. Na verdade, para além do respeito ou desrespeito das questões formais na realização da sinaléctica, o rodapé da placa é claro pois tem inscrito "autocaravanas" (veja-se a foto). Note-se que não tenho qualquer objecção a este tipo de actividade, desde que cumpridora dos regulamentos e do seu estatuto. Pretendia, isso sim, alertar para a poluição visual criada pelo estacionamento desregrado no areal. A paisagem natural, o Rio, o visitante e o habitante da vila merecem este cuidado.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Feiras Novas 1908-2008

[Ponte de Lima, 16 e 17 de Setembro de 2008]

"O entusiasmo na vila com os preparativos para as atraentes festas á Virgem das Dores, manifesta-se desde ha dias, o que traz para os seus promotores tambem grande regosijo por verem que tudo corre ás mil maravilhas. Oxalá o tempo não apareça por ahi a fazer alguma pirraça..." [Echo do Lima, 17 de Setembro de 1908]

quarta-feira, setembro 10, 2008

Os Limianos na Grande Guerra: uma leitura.

No decurso de uma entrevista, Georges Duby (1919-1996), eminente historiador francês, responde à interpelação feita por Raymond Bellour sobre a ficção e as ligações entre história e romance: Há, sem dúvida, uma enorme diferença entre a história e o romance, na medida em que a ficção histórica está forçosamente ligada a algo que foi verdadeiramente vivido, mas, no fundo, a forma de abordagem não é muito diferente. O historiador conta uma história, uma história que ele forja recorrendo a um certo número de informações concretas.
Vem esta citação a propósito da leitura que fizemos do recente trabalho publicado por Luís Dantas, Os Limianos na Grande Guerra. Trata-se de uma edição de autor, que, primando por uma narrativa quase literária, nos remete para a história do primeiro conflito mundial, a guerra que todas as grandes nações europeias consideravam, à partida, que seria curta. A realidade, cruelmente, impôs uma duração longa; houve que refazer planos e o conflito ganhou contornos inauditos. A guerra de movimentos rapidamente deu lugar às trincheiras. Produziram-se mobilizações (de homens, recursos e economias) sem precedentes, apareceram novas armas e técnicas, entre as quais, a chamada “guerra psicológica” (entre outras iniciativas, a aviação americana lançou panfletos onde se questionava: “Ainda tens esperança numa vitória final? Estás disposto a sacrificar a tua vida por uma causa sem esperança?”).
Luís Dantas traça um quadro deste momento da História, entrecruzando, as diferentes dimensões – o contexto internacional, a realidade portuguesa (que à época implica o espaço colonial) e o pulsar da guerra vivida pelos combatentes, particularmente os limianos. Como notou Marc Ferro, “a guerra vivida pelos combatentes tem a sua história que não é a grande História”. Luís Dantas consegue dar nota dessa “pequena história”, marcada pela esperança de um regresso breve, pelo quotidiano dramático nas trincheiras e a crescente consciência solidária entre combatentes. De igual modo, retrata o soldado comum. Não se limita a evidenciar o papel das chefias ou dos heróis de guerra. Tanto fala de Norton de Matos e da sua acção na preparação das tropas do CEP, como dos soldados (até hoje) anónimos. Os postais que publica são paradigmáticos: as dificuldades de escrita de Gaspar António de Lima (pág. 136) denunciam um país dominado por baixos índices de alfabetização. Abro parêntesis, para notar que alguns se deixam retratar junto de cenários que poderiam servir para o dia de comunhão ou para os noivos; fecho. Luis Dantas não redige uma mera apologia, mas não deixa de vincar o heroísmo destes homens. É nomeando e retratando os soldados limianos que os (re)coloca na memória colectiva. A partir deste trabalho, deixa de haver “antigos combatentes limianos”, colectivo anónimo puramente comemorativo.
Ao ler as páginas de Os Limianos na Grande Guerra, perpassa a imagem de um país imerso em grandes dificuldades. Norton de Matos teve-as na preparação das tropas e na obtenção de armamento; os soldados na frente de batalha sentiam a falta de reservas e a inadaptação a um novo estilo de guerra (veja-se a reacção à comida inglesa, ao corned beef e à marmelada de casca de laranja azeda); a fome alastra no país. A República treme. O “Milagre de Tancos” deu lugar ao “Fado do Cavanço” e este culminou com uma Europa exaurida e com a insubordinação das tropas na linha da frente. A Batalha de La Lys representou o fim da guerra para os Portugueses.
A narrativa de Luís Dantas segue uma linha cronológica clássica, remetendo, ainda que implicitamente, para a teoria historiográfica tradicional que justifica a nossa intervenção na Primeira Guerra Mundial pela necessidade de proteger o espaço colonial. Num segundo momento, dá nota das dificuldades da Primeira República e, dessa forma, aproxima-se da linha de investigação que vê na legitimação do poder republicano a razão para entrar na guerra. Sem preocupações de exaustividade, lavra um texto de leitura agradável. Também aqui parece cumprir as palavras do historiador francês, na entrevista supracitada: “o historiador sempre escreveu por prazer e para dar prazer aos outros”. Sem cair no narrativismo, nem numa história recitativa, Luís Dantas, quer neste livro quer na sua restante e extensa produção, suscita-nos a reflexão (eternamente emergente e não resolvida) sobre a escrita histórica e a escrita literária. Paul Ricouer admite que não existe ficção pura, nem História tão rigorosa que se abstenha de todo o procedimento romanesco. Talvez Luís Dantas seja a prova disso.
Como historiador, Luís Dantas cumpre o aparato necessário à crítica e validação do conhecimento. Há referência em nota à bibliografia, menciona os arquivos consultados, refere todos aqueles que contribuíram para o resultado final. O livro destaca-se ainda por coligir um conjunto de imagens relevantes. Algumas, verdadeiros ícones (como as de Joshua Benoliel e Arnaldo Garcez), merecem do autor uma análise aguda (veja-se a leitura feita à fotografia de Garcez, na pág. 18 e 19), revelando a potencialidade da iconografia como documento histórico (algumas fotografias mereciam um tamanho maior!). O leitor percebe que o material reunido foi criticamente analisado e que houve uma utilização cuidada das fontes literárias (a tentação habitual é cair no impressionismo).
Cabe a Luis Dantas o mérito de abrir uma porta; outros investigadores colocarão sobre o mesmo objecto outras questões, “na plena consciência de que jamais chegaremos a uma verdade objectiva” (Georges Duby).

A entrevista que citamos pode ser lida em George DUBY, Philippe ARIÈS, Jacques Le GOFF e E. Leroy LA DURIE - História e Nova História. Lisboa: Editorial Teorema, 1989. Sobre a Primeira Guerra Mundial veja-se Marc FERRO - La Grande Guerre. 1914-1918. Paris: Éditions Gallimard, 1990. Georges Duby fala em primeira pessoa, entre outros assuntos, das opções que tomou quanto à escrita em A História Continua, editado pela ASA, em 1992. É particularmente interessante a sua justificação quanto ao trabalho Guilherme, o Marechal.

segunda-feira, setembro 08, 2008

segunda-feira, setembro 01, 2008

O Anunciador das Feiras Novas em tons de prata

[Capa da vigésima quinta edição, da segunda série, de "O Anunciador das Feiras Novas"]

faces da revista