segunda-feira, novembro 27, 2006

Em torno de dois livros



Este fim de semana cruzei-me com um livro de Eduardo Souto de Moura. Trata-se de "22 casas de Eduardo Souto de Moura", recentemente apresentado em Guimarães, no âmbito da exposição com o mesmo nome, que decorreu no Departamento Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho. O livro centra-se no tema da “habitação unifamiliar” e apresenta o percurso de duas décadas deste arquitecto. Entre as habitações descritas, encontramos aquela que já mereceu destaque no nosso post "Arquitectura em Ponte de Lima (I)": duas casas em Ponte de Lima, na quinta de Anquião.
E, por falar em livros, estivemos na apresentação do trabalho de José Ernesto Costa, "Crónicas de um outro tempo". A trilogia completa um trabalho de recolha de marcado cariz nostalgico, onde os "velhos papéis" esteticizados ganham outro valor e as fotografias deixam o carácter de recordação individual para assumirem o papel de documento de outros costumes, artes e sabedorias. Registo, onde se cruzam o "tempo pessoal" e o "tempo da vila", o livro ganha contornos de álbum geracional. No Teatro Diogo Bernandes, recordando as vivências da juventude em torno da exibição das "fitas", por iniciativa do autor, fomos brindados com interesantes interlúdios musicais e leituras de trechos da sua obra.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (V)

[anúncio publicado em 1948]

[anúncio publicado em 1919]

Dois anúncios da Farmácia da Misericórdia. Em 1919, afirmava-se que, sendo "uma das principais da provincia", possuía "um completo e variado sortimento de preparações e especialidades farmaceuticas". O anúncio de 1948, publicado no "O Anunciador das Feiras Novas", chamava atenção dos clientes para o facto de ser depósito das cervejas e laranjadas da Companhia União Fabril Portuense, agente de seguros e vendedor de papel selado.

domingo, novembro 19, 2006

Roteiro sentimental de "outro tempo"

José Ernesto Costa apresenta no dia 25, próximo sábado, no Teatro Diogo Bernardes, o terceiro volume do seu trabalho de cariz memorialista, Crónicas de um Outro Tempo. O convite que nos foi remetido (deixamos, desde já, o nosso agradecimento) inclui a reprodução da capa cujo tema nos remete literalmente para "outros tempos". O cenário não mudou mas as prácticas sociais, os rituais, as sociabilidades tomaram outras configurações. As águas do rio deixaram de ter a mesma impetuosidade; as lavadeiras foram substituídas por máquinas. As conversas e os cantares das "coradeiras" deixaram de acompanhar o sussurar das águas. Os panos estendidos ao longo do areal deram (infelizmente!) espaço a automóveis. Quando é que se libertará o areal desse intruso visual, desse elemento poluente e descaracterizador? Não podemos estar sempre a regressar a "outros tempos", mas do passado não devemos perder aquilo que ele teve de melhor. José Ernesto Costa fala de um "nó" na garganta quando escreve sobre o passado. O presente também traz um "nó" quando nos esquecemos de olhar o passado. A memória é o melhor alicerce do futuro.
[José Ernesto Costa já publicou dois volumes com o título "Crónicas de um Outro Tempo" (2004 e 2005), verdadeiros roteiros sentimentais, onde se cruzam as memórias locais com a memória do autor. É, ainda, autor de Poemas da Terra e do Lima (1996) e Cheia do Rio Lima (2001).]

sábado, novembro 18, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (IV)

A Ordem dos Arquitectos apresentou recentemente o IAPXX - Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal -, uma iniciativa realizada pela referida Ordem em parceria com a Fundació Mies van der Rohe e o Instituto das Artes, co-financiada pelo Interreg III - SUDOE. Segundo os promotores da iniciativa este inquérito "teve como objectivo registar em base de dados digital um levantamento do património arquitectónico construído em Portugal durante o século XX, tornando-o matéria acessível ao público em geral". Concretizado o levantamento, que na região norte foi coordenado por Sérgio Fernandez, o trabalho está disponível no endereço
http://iapxx.arquitectos.pt/.
Realizamos, por estes dias, uma pesquisa à base de dados, procurando as obras de arquitectura de Ponte de Lima que mereceram a atenção da equipa de investigadores. Foi, então, possível verificar que há referência às seguintes obras: Escola Superior Agrária [1987-1993] (ESA, IPVC), de Fernando Távora; Museu Rural [1998-2000] e Centro Naútico [1995-1998], de José Guedes Cruz; Central de Camionagem [2000], cujo arquitecto não é identificado; Campo de Golfe [1993-2000] e Clubhouse [1993-1995], de Jean Pierre Porcher, Margarida Oliveira e Albino Freitas.
Como se verificará não é incluída qualquer obra anterior à fase final do século XX. Terá sido distracção dos responsáveis pelo levantamento ou não haverá qualquer edifício que justifique o registo?
Se aceitarmos a segunda hipótese, estaremos a reconhecer que Ponte de Lima, particularmente o espaço urbano, não esteve sujeita a uma inflação de construção durante quase todo o século XX e que as (poucas) obras realizadas não reúnem qualidades estéticas e formais para serem consideradas num inquérito com aqueles fins. Com efeito, não será difícil encontrar, incrustadas no centro da vila, algumas obras de arquitectura de valor discutível, particularmente da década de setenta e oitenta.
Porém, é legítimo perguntar se não poderiamos enriquecer este acervo de arquitectura do séc. XX. O site da Ordem dos Arquitectos permite o contributo do público. Alguém é capaz de atribuir a obra de arquitectura da Central de Camionagem? Digam-nos quem foi o autor do projecto; nós encarregamo-nos de enviar a informação para a Ordem.

quarta-feira, novembro 15, 2006

[foto:jcml, Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos]

terça-feira, novembro 14, 2006

Na nossa caixa de correio

Recebemos na nossa caixa de correio informação sobre o Seminário "Ponte de Lima, Terra Rica da Humanidade", a realizar no próximo dia 23 de Novembro, no Teatro Diogo Bernardes, que partilhamos com os nossos visitantes.
Segundo o remetente do email, o Seminário, pretende assumir-se como um espaço de discussão crítica e cientifica de intercâmbio de experiências, no âmbito da protecção/valorização do património, contando com a presença de personalidades com experiência reconhecida no âmbito da preservação do património.
Os interessados deverão enviar a sua inscrição (gratuita) até ao dia 17 de Novembro.
Contactos:
Município de Ponte de Lima
Praça da República 4990 – 062 Ponte de Lima
Telefone: 258 900 400 – ext 423
Fax: 258 900 424
terraricadahumanidade@pontedelima.pt

Programa:
9h30 Sessão de Abertura
Daniel Campelo (Eng.º) – Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima; Mário Vieira de Carvalho (Dr.) – Sec. de Estado da Cultura *A confirmar; Adalberto Hiller (Mestre) – Coordenador da Univ. Fernando Pessoa – Unidade de Ponte de Lima
10h00
Painel – “Património, História e Arquitectura de Ponte de Lima”
António Matos Reis (Doutor); Brochado Almeida (Prof. Doutor) e José Marques (Prof. Doutor)
Pausa para café
11h15 Painel – “Espaços Urbanos e Reabilitação Urbana. Património Urbanístico e Reabilitação Urbanística”
Walter Rossa Ferreira da Silva (Prof. Doutor); Carvalho Dias (Prof. Doutor Arq.) e Nuno Ribeiro Lopes (Arq.)
12h15 Debate
12h45 Almoço Livre
15h00 Painel "Património Imaterial"
José Cândido Oliveira Martins (Prof. Doutor); Xosé M. Reboredo (Prof. Doutor) e Álvaro Campelo (Prof. Doutor)
Pausa para café
16h15 Painel "Centros Históricos, Património para o Futuro"
António Vasco Massapina (Arq.); Rui Ramos Loza ( Arq.); D. Francisco Garcia Suaréz (Alcaide de Allariz) e Rosa Mendez (Prof. Doutora)
17h45 Debate
18h00 Sessão de Encerramento
Franclim Sousa (Dr.) – Vereador da Cultura da C.M. de Ponte de Lima; Francisco Sampaio (Dr.) – Presidente da Região de Turismo do Alto Minho e Isabel Escudeiro (Dr.ª) – Assessora da Presidência da CCDRN

sexta-feira, novembro 10, 2006

Chapelarias em Ponte de Lima


Publicamos mais um anúncio de uma chapelaria de Ponte de Lima. No post intitulado "Anúncios de Ponte de Lima (III)", de 8 de Novembro, trouxemos a lume dois anúncios: um, da Chapelaria Europa, de Manuel Carlos da Fonseca, com sede na Rua do Souto; outro, da Chapelaria Flor do Lima, de Artur Silva, na Rua Boaventura José Vieira. Hoje partilhamos com os frequentadores deste espaço o anúncio, publicado no primeiro número do jornal Cardeal Saraiva (15.02.1910), à Chapelaria Progresso, de Francisco Vasques Martins. Segundo o Almanaque de Ponte de Lima (1910) havia duas chapelarias na vila: a Progresso e a Europa.
Os chapeleiros, enquanto operários altamente qualificados, com características muito próximas dos artesãos, viveram no século XIX, de forma pungente, o embate da mecanização do processo produtivo e da importação de chapéus estrangeiros. O crescimento da indústria chapeleira no Norte do país, vivido a partir da década de setenta do século XIX, anunciava a fragilização da posição dos chapeleiros manuais, que passam a ser preteridos por operários indeferenciados e menos qualificados. A máquina roubou o saber aos chapeleiros tradicionais. No comércio local passamos a encontrar com maior frequência os produtos industriais e, cada vez mais, os produtos importados. A moda, por sua vez, encarregar-se-á de contribuir para a gradual extinção deste ofício e deste comércio.
[para conhecer melhor a indústria chapeleira veja-se Maria Filomena Mónica - Artesãos e Operários. Lisboa: ICS, 1986]

quinta-feira, novembro 09, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (IV)

[anúncio da loja Novo Mundo (1919) e imagem de um postal onde é visível a entrada da loja]
Mais do que resultado de um sentimento nostálgico, a publicação de anúncios do comércio limiano, que temos vindo a realizar com alguma regularidade, procura evidenciar a relevância que teria a realização de um estudo, no âmbito da história económica, social e cultural, sobre o comércio na vila de Ponte de Lima. Trabalho abrangente, implicaria um aturado levantamento de informação escrita e iconográfica, cujos resultados, cremos, surpreenderiam.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Anúncios de Ponte de Lima (III)

[anúncios publicados em 1919]

domingo, novembro 05, 2006

Sobre o comércio limiano_1913

Fevereiro de 1913: a imprensa local dava nota da mudança do estabelecimento de Boaventura José Alves da Praça de Camões para a Rua do Rosário, junto da Papelaria Cruz & Guimarães. Um mês mais tarde, Emílio de Sousa, comerciante vindo de Viana do Castelo, abria uma loja de fazendas na Praça de Camões.
Corria Maio, os jornais anunciavam que a Barbearia Amorim estava "a passar por um importante melhoramento": um mestre local, Joaquim Manuel Lima, executava um "trabalho de talha em estilo arte-nova", qualificado pelo autor daquelas linhas como "verdadeiro mimo" (Cf. Comércio do Lima, 31 de Maio de 1913).
O verão desse ano será marcado pela inauguração da Padaria Amorim, de Manuel Caldas Amorim, filho de Manoel Rodrigues Amorim. A padaria "além da venda de pão" apresenta "um grande sortido de bolacha e doce, bem como uma collecção de vinhos finos e espumosos, cervejas, gazosas, etc." (Cf. Cardeal Saraiva, 14 de Agosto de 1913).
Preparando a chegada do inverno, os jornais de Agosto divulgavam que Sousa Mariano, dos Armazéns de Lisboa, seguia para Lisboa "afim de fazer directamente os sortidos para a proxima estação (...) nas mais importantes fabricas nacionais e estrangeiras" (Cf. Comércio do Lima, 2 de Agosto de 1913).
Alguns limianos defendem que a periodicidade dos mercados devia passar da quinzena para a semana. Em Outubro, a Associação Comercial, de comum acordo com os industriais locais, solicita à Comissão Municipal Administrativa a conversão das feiras quinzenais em mercados semanais (Cf. Cardeal Saraiva, 30 de Outubro de 1913).
Os ritmos da feira continuam marcados por hábitos do mercadejar tradicional. Na segunda rampa ao norte do Passeio Cândido dos Reis, vários comerciantes açambarcadores "atravessam" os ovos, as aves e certos géneros, "chegando a praticar violencias no conseguimento do seu abusivo mercadejar!" (Cf. Cardeal Saraiva, 25 de Setembro de 1913).
[reclamo dos Armazens de Lisboa, de 1919]

quarta-feira, novembro 01, 2006

O Conde d'Aurora procura e gratifica...

Não passa de uma curiosidade (deliciosa!) este anúncio publicado no jornal Cardeal Saraiva de 26 de Maio de 1921: "O Conde d'Aurora declara que entregará cem escudos á pessoa que lhe indicar quem lhe envenenou ultimamente uma cadela Lobo d'Alsacia e que guardará o maior sigilo da indicação". Parece que a gratificação pela informação não terá sido suficientemente atractiva, uma vez que o mesmo apelo foi (re)publicado na edição de 2 de Junho, do mencionado jornal.

Anúncios de Ponte de Lima (II)

[Reclamo da Sapataria de Secundino de Souza Vieira, 1919]

faces da revista