sábado, novembro 18, 2006

Arquitectura em Ponte de Lima (IV)

A Ordem dos Arquitectos apresentou recentemente o IAPXX - Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal -, uma iniciativa realizada pela referida Ordem em parceria com a Fundació Mies van der Rohe e o Instituto das Artes, co-financiada pelo Interreg III - SUDOE. Segundo os promotores da iniciativa este inquérito "teve como objectivo registar em base de dados digital um levantamento do património arquitectónico construído em Portugal durante o século XX, tornando-o matéria acessível ao público em geral". Concretizado o levantamento, que na região norte foi coordenado por Sérgio Fernandez, o trabalho está disponível no endereço
http://iapxx.arquitectos.pt/.
Realizamos, por estes dias, uma pesquisa à base de dados, procurando as obras de arquitectura de Ponte de Lima que mereceram a atenção da equipa de investigadores. Foi, então, possível verificar que há referência às seguintes obras: Escola Superior Agrária [1987-1993] (ESA, IPVC), de Fernando Távora; Museu Rural [1998-2000] e Centro Naútico [1995-1998], de José Guedes Cruz; Central de Camionagem [2000], cujo arquitecto não é identificado; Campo de Golfe [1993-2000] e Clubhouse [1993-1995], de Jean Pierre Porcher, Margarida Oliveira e Albino Freitas.
Como se verificará não é incluída qualquer obra anterior à fase final do século XX. Terá sido distracção dos responsáveis pelo levantamento ou não haverá qualquer edifício que justifique o registo?
Se aceitarmos a segunda hipótese, estaremos a reconhecer que Ponte de Lima, particularmente o espaço urbano, não esteve sujeita a uma inflação de construção durante quase todo o século XX e que as (poucas) obras realizadas não reúnem qualidades estéticas e formais para serem consideradas num inquérito com aqueles fins. Com efeito, não será difícil encontrar, incrustadas no centro da vila, algumas obras de arquitectura de valor discutível, particularmente da década de setenta e oitenta.
Porém, é legítimo perguntar se não poderiamos enriquecer este acervo de arquitectura do séc. XX. O site da Ordem dos Arquitectos permite o contributo do público. Alguém é capaz de atribuir a obra de arquitectura da Central de Camionagem? Digam-nos quem foi o autor do projecto; nós encarregamo-nos de enviar a informação para a Ordem.

1 comentário:

andré rocha disse...

É uma questão que já me havia colocado. De facto Ponte de Lima não tem exemplos consideráveis de arquitectura que poderíamos inserir no movimento moderno ou modernista português apesar de estarmos perto do Porto onde uma classe de arquitectos tanto produziu. Em Viana do Castelo, pelo contrário, vemos em pleno centro histórico, na zona da avenida da estação, vários prédios de traça modernista, construídos claramente com novos materiais como o betão armado e de grande despojamento ornamental. Em Ponte de Lima vejo alguma arquitectura típica dos anos 40, dos primeiros anos do Estado Novo. É o caso do redesenho do jardim António Feijó com a constante da forma semi-circular na estátua do poeta, na fonte da vila e espaço envolvente do Pelourinho. Outro exemplo será o actual quiosque à entrada da ponte medieval com a sua planta em forma de escudo numa exaltação ao símbolo nacionalista. A antiga escola pré-primária contém alguns tiques de modernidade, alguma art-deco, ou seja, grandes janelas só possíveis através do uso do betão, alguma decoração geometrizada. Através de uma foto antiga apercebi-me que o edifício dos correios tinha um desenho modernista com uma curiosa pala a proteger a entrada típica desta arquitectura. Entretanto sofreu uma transformação da fachada de forma a compatibilizar com o resto do casario. Colocaram-se cantarias de granito nas janelas. No entanto estes exemplos não têm o valor suficiente para figurarem entre os melhores. Os prédios que se construíram nos anos 60 e 70 na rua Inácio Perestrelo e Largo de São José são de qualidade desastrosa para o centro histórico. Pela escala, altura, O rés-do chão demasiado transparente e materiais incoerentes com os restantes romperam com a traça dominante. O facto de serem modernos não inviabilizava esta integração.
Podemos dizer que hoje Ponte de Lima tem arquitectura de qualidade capaz de entrar na rota do turismo do património moderno de arquitectura. Algumas em pleno centro histórico.

faces da revista