quarta-feira, dezembro 27, 2006

O Teatro Diogo Bernardes, o cinematógrafo e a Companhia Rey Colaço

Em Janeiro de 1922, os habitantes da vila, admiradores do cinema, assistiram ao drama Falsa Herdeira e à comédia Excursão Agitada, precedidas das Actualidades. Os primeiros domingos de Fevereiro trouxeram Amor Proibido, Em busca de aventuras, Repeniques de Amor, Pequena Endiabrada, Mensageira de Ventura e Ele no Camarim. O Carnaval desse ano incluiu uma sessão de cinema que antecedeu o baile, animado pela orquestra da vila regida por António Ferraz. Em Março, as sessões cinematográficas previstas para os dias 20 e 21 foram canceladas para que a sala desse lugar ao teatro, à Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, que levou à cena Marianela e Entre Giestas. O jornal Cardeal Saraiva, de 23 de Março de 1922, dirá a propósito deste espectáculo que os actores deixaram "uma impressão muito agradavel da sua maneira de fazer arte", destacando o trabalho de Henrique Albuquerque e António Pinheiro. Das duas peças "agradou mais Entre Giestas".

A Companhia Rey Colaço Robles Monteiro fizera a sua primeira aparição em público na noite de 18 de Junho de 1921, no Teatro de S. Carlos, com uma peça de Alfredo Cortez. Não deixa de ser interessante notar que Amélia Rey Colaço (1898-1990) estreou-se em 1917 com a peça Marianela, de Perez Galdós, a mesma que a companhia levou à cena em Ponte de Lima, em 1922. Como refere a página electrónica do Museu do Teatro, "Amélia Rey Colaço era uma actriz de excepção e além disso escolhia o repertório da companhia e distribuía as peças, bem como chamava a si a montagem de cada espectáculo, imprimindo-lhe requintes até então desconhecidos e que marcariam não só a companhia como todo o teatro em Portugal" (Cf. http://www.museudoteatro-ipmuseus.pt/). Durante o período em referência, no repertório da companhia predominavam "as peças dos novos autores portugueses, 38 ao todo, 22 em estreia incluindo seis revistas de carnaval com nomes como Alfredo Cortez, Carlos Selvagem ou Ramada Curto. A seguir vêm 28 peças francesas, 22 em estreia; 19 peças espanholas, 15 em estreia, sendo 5 dos célebres irmãos Quintero; 5 peças italianas, 2 brasileiras e 2 americanas" (idem). A partir de 1929, Amélia Rey Colaço e o seu marido Robles Monteiro (1888-1958) dirigem a Companhia do Teatro Nacional.
No fim de Março, a imprensa limiana anuncia a passagem, nos dias 9 e 10 de Abril, do filme Amor de Perdição. Tudo leva a crer que se tratava da primeira adaptação para cinema do romance de Camilo Castelo Branco (1825-1890), publicado em 1862, realizada por Georges Pallu, em 1921.

[Fontes: jornal Cardeal Saraiva, números referentes aos meses de Janeiro a Março de 1922; Joaquim Veríssimo SERRÃO - História de Portugal. s/l: Editorial Verbo, 1990, vol. XII; António REIS - Portugal Contemporâneo. s/l: Publicações Alfa, vol. 2; www.museudoteatro-ipmuseus.pt e www.amordeperdicao.pt]

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