domingo, dezembro 24, 2006

Natal


Menino, peço-te a graça
de não fazer mais poema
de Natal.
Uns dois ou três, inda passa...
Industrializar o tema,
eis o mal.
Como posso, pergunto o ano
inteiro, viver sem Cristo
(por sinal,
na santa paz do gusano)
e agora embalar-te: isto
é Natal?
(...)
Perdoa, Infante, a vaidade,
a fraqueza, o mau costume
tão geral:
fazer da Natividade
um pretexto, não um lume
celestial.
(...)
[extractos do poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado Conversa informal com o Menino, constante no 8º volume da Obra Poética, publicada pela Europa-América, 1989]

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