sábado, janeiro 27, 2007

Sanhudo, Mâncio e Laerte

Em 1999, publicamos um artigo sobre os caricaturistas limianos Sebastião Sanhudo (1851-1901) e Alfredo Mâncio (1868-1905), na revista "O Anunciador das Feiras Novas" (ano XVI). Nele traçamos alguns contornos biográficos e abordamos algumas das questões estéticas da respectiva produção artística.
Aqueles que estejam interessados em fazer uma leitura integral podem aceder à página http://anunciadordasfeirasnovas.planetaclix.pt/caricaturistaspontedelima.html.

Ponte de Lima tem neste campo das artes um legado que não merece displicência. No texto do prospecto de uma exposição sobre Sebastião Sanhudo, promovida pelo Museu Nacional de Imprensa (Porto), há alguns anos, na Torre da Cadeia Velha, Luis Humberto Marques, seu director, sugeria que a toponímia de Ponte de Lima e do Porto registassem o nome daquele caricaturista. Consultei o levantamento toponímico de Ponte de Lima elaborado por António José Baptista e verifiquei que essa sugestão não foi ainda tida em atenção (a menos que a decisão tenha sido posterior àquela publicação, 2001). Se, efectivamente, Sebastião Sanhudo não tem ainda lugar na toponímia local, aqui fica o repto. Julgamos que Alfredo Mâncio é digno de semelhante registo na memória toponómica da vila. Este para além do seu trabalho como caricaturista e, fora do âmbito das publicações de pendor humorista, fundará O Commercio, onde, segundo Júlio de Lemos, “advogava, com a calorosa devoção de um verdadeiro limarense, os interesses vitaes da nossa terra natalicia” (Cf. Notícias de Coura e Valença, 4 de Janeiro de 1906, nº 21, ano I). Esta sugestão não invalida que se pense noutras formas de recordar estas (e outras) figuras da história de Ponte de Lima. Creio que seria de toda a relevância introduzir no currículo escolar uma dimensão local e que muito desse trabalho poderia passar pelo primeiro ciclo, onde se percebe maior flexibilidade na gestão dos programas (se não concretizada na prática, possível na teoria). Não estamos a pensar numa simples exposição cuja efemeridade inviabilizaria um trabalho sistemático e a longo prazo, capaz de suscitar nas novas gerações o prazer de conhecer melhor a realidade local, mas num projecto construído e sustentado nas escolas, na autarquia e noutros agentes culturais locais.

Voltando-nos para o presente, não deixa de ser interessante notar que um dos caricaturistas mais conhecidos no Brasil seja descendente de limianos. O próprio, Laerte Coutinho, o afirma numa nota biográfica do sítio da Devir: "Nasci em 10 de junho de 1951 e me chamo Laerte Coutinho. Minha familia tem um pé em Portugal, meu bisavô Miguel veio de Ponte de Lima" (Cf. http://www.devir.com.br/hqs/laerte.php). Se quiser conhecer melhor este autor de "quadradinhos" consulte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Laerte_Coutinho ou o seu sítio oficial http://www.laerte.com.br/.



[Fontes: as mencionadas no texto e António José Baptista - Toponímia de Ponte de Lima. Ponte de Lima: Câmara Municipal de Ponte de Lima, 2001; Ilustrações: reprodução da primeira página de "O Sorvete"; do interior do prospecto mencionado no texto e de um retrato sobre a forma de desenho de Laerte Coutinho]

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao que julgo saber, Sebastião Sanhudo fez parceria com outro vulto da caricatura da sua época, o caricaturista e aguarelista Leal da Câmara.
Creio que de origem goesa, Leal da Câmara viveu na Rinchoa, Freguesia de Rio de Mouro, Concelho de Sintra, bem próximo do local onde resido. A sua casa foi doada ao concelho de Sintra e a Câmnara Municipal transformou-a em Casa-Museu.
Situada numa região marcadamente saloia, Leal da Câmara retratou nas suas aguarelas, como ninguém antes havia feito, os usos e costumes das gentes da localidade, mormente aspectos pitorescos da Feira das Mercês.
Mas, é acerca da sua relação artística com Sebastião Sanhudo que gostaría de saber um pouco mais, caso alguém pudesse adiantar algo a esse respeito.

Anónimo disse...

O verbete sobre Sebastião Sanhudo surgido no "Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal", que escrevi juntamente com António Dias de Deus (Edições Época de Ouro / Câmara Municipal da Amadora. Outubro de 1999) indica que: "Em 1898 foi correspondente no Porto de 'A Corja', de Leal da Câmara, travando com este um divertido duelo gráfico em quadradinhos, sobre qual dos dois seria o mais feio..."
Desculpe a publicidade mas no mesmo livro é também possível encontrar uma entrada sobre Alfredo Cândido, outro famoso cartoonista também nascido em Ponte de Lima.

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