José Ernesto Costa apresenta no dia 25, próximo sábado, no Teatro Diogo Bernardes, o terceiro volume do seu trabalho de cariz memorialista, Crónicas de um Outro Tempo. O convite que nos foi remetido (deixamos, desde já, o nosso agradecimento) inclui a reprodução da capa cujo tema nos remete literalmente para "outros tempos". O cenário não mudou mas as prácticas sociais, os rituais, as sociabilidades tomaram outras configurações. As águas do rio deixaram de ter a mesma impetuosidade; as lavadeiras foram substituídas por máquinas. As conversas e os cantares das "coradeiras" deixaram de acompanhar o sussurar das águas. Os panos estendidos ao longo do areal deram (infelizmente!) espaço a automóveis. Quando é que se libertará o areal desse intruso visual, desse elemento poluente e descaracterizador? Não podemos estar sempre a regressar a "outros tempos", mas do passado não devemos perder aquilo que ele teve de melhor. José Ernesto Costa fala de um "nó" na garganta quando escreve sobre o passado. O presente também traz um "nó" quando nos esquecemos de olhar o passado. A memória é o melhor alicerce do futuro.
[José Ernesto Costa já publicou dois volumes com o título "Crónicas de um Outro Tempo" (2004 e 2005), verdadeiros roteiros sentimentais, onde se cruzam as memórias locais com a memória do autor. É, ainda, autor de Poemas da Terra e do Lima (1996) e Cheia do Rio Lima (2001).]
2 comentários:
As "Crónicas de um Outro Tempo" é, com efeito, uma excelente iniciativa de José Ernesto Costa. Outro tempo - aquele que ainda está para vir - se encarregará de confirmar a valiosidade deste trabalho de recolha e memoralização de outro tempo, aquele que já passou na ordem cronológica, mas que ficou na memória de muitos limianos. Casa objecto possui uma história e, a partir deles, poderemos reescrever a vida social, económica, sentimental de uma determinada época e de um determinado lugar - Ponte de Lima - feita de gente, simples, mas aquela que realmente interessa pois a ela se deve o labor da nossa terra, a grandeza da nossa história. É essa gente simples que faz a feira, a festa, o trabalho, que plantou os plátanos da avenida, ergueu as muralhas acima das suas próprias forças, lavra a terra, coze o pão, canta na eira, cozinha o sarrabulho e ama a sua terra. É principalmente dessa gente que fala o livro de José Ernesto Costa.
Parafraseando a cançoneta brasileira que Pacheco Pereira,"apanhou" nas instalações sonoras da festa da Marmeleira e que de ela faz uso semanalmente na sua crónica na revista Sábado, diremos que também aqui é caso de que «quem nasceu lagartixa, nunca chega a jacaré...»
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