A recente intervenção no areal suscitou alguma perplexidade. Perdidos os usos forjados por séculos de história, à excepção da feira, parecem ter sumido as razões para manter aquele espaço como um simples areal. Este não é o meu ponto de vista. O areal é um objecto de natureza, formado por processos de sedimentação hidráulica. Desde logo, o areal conta-nos uma história natural, a da evolução dos elementos físicos, do devir da Natureza. Ponte de Lima merece muito do seu encanto à capacidade que os homens foram demonstrando, ao longo de séculos, de ligar a construção humana à forma primeva. Por outro lado, a sua configuração enquanto espaço urbano resultou de uma relação estreita com o rio, adaptando-se às mudanças impostas pela correnteza das águas e pelas areias (veja-se, por exemplo, a implantação das pontes romana e medieval). O areal sendo elemento natural é, também, coisa construída, testemunho de permanências e memórias. Não consideramos que salvaguardar a memória implique sempre acentuar as permanências. Contudo, não podemos deixar de notar que, perdidas muitas das funções tradicionais do areal (espaço de brincadeira, lugar de corar e estender roupa…) e sendo manifesta a inapropriada colonização pelos automóveis, resta a presença de uma forma. O areal tem, actualmente e do meu ponto de vista, na forma geral da vila uma função essencial: permitir a entrada de ar e de luz, permitir a respiração, e, dessa forma, suscitar a compreensão de um certo telurismo que justifica muitas das características de Ponte de Lima. Nessa medida, o areal deve ser sempre simples areal, um espaço público que nos permita fruir os elementos naturais, o casario, a ponte, o horizonte, as montanhas e o céu, sem intrusões visuais significativas ou intervenções que nos façam esquecer todo o espaço envolvente. Um areal, assim entendido, valoriza o edificado, dando-lhe monumentalidade. Um areal, assim sem outra função, reconduz Ponte de Lima às suas origens.
11 comentários:
Não faz nenhum sentido construir um empedrado no areal ! Não deixa de ser um atentado cultural e ambiental . O seu escrito diz-nos tudo .
Fernando Lima Ponte de Lima
Excelente texto. É necessário não ter horror ao "vazio" provocado pelo areal. Infelizmente tem sido difícil entender que a paisagem bucólica de Ponte de Lima que tanto inspirou poetas e pintores devia-se em parte à horizontalidade serena daquele areal que tão bem enquadrava a ponte medieval naquele lençol de areia que iluminava-se perante o sol. Neste momento constrói-se a mais e de pior: mancha-se a pintura criada pela Natureza e o Homem no centro histórico da vila com pinceladas de mau gosto e que não lhe são dignas. Em Ponte de Lima tudo que se faça actualmente deve ser feito pelos melhores, seja na escultura, na arquitectura ou urbanismo. Infelizmente isso não acontece e consequentemente o turista-alvo diminui de qualidade. A sua última frase aponta um caminho para a vila..reconduzir às suas origens e isso significa uma lavagem de cara.
Infelizmente os atentadfos continuam , agora estão a despejar o entulho das obras das vias de comunicação nas margens do rio Lima . Restos de tubos , plásticos , ferro , asfalto etc ... e depois tapam com terra por cima.
Como é possivel coisas destas no século XXI !
Pedro Lima - Ponte de Lima
Pedro Lima o seu alerta merece que seja mais preciso. As questões ambientais merecem a nossa melhor atenção. A que obras se refere? Onde é que se verifica esse despejo?
Mais preciso ? Frente à vila de Ponte de Lima , margem esquerda e muito perto da Ponte Medieval . Pelo que me informaram um jornal local já denunciou a situação .
Pedro Lima
Mais preciso ? Frente ao passeio 25 de Abril , junto à Ponte Medieval , margem esquerda do Rio Lima . despejaram entulho e cobriram com terra . Um verdadeiro abuso do poder .
Pedro Lima
Pedia à autarquia de POnte de Lima
para não deixar esquecido todo aquele espaço de rara beleza. Procurem outra alternativa para os automóveis !
Rosa Costa
As margens do Rio Lima mereciam
outro olhar ! É triste assistir a tanta indiferença . A comunidade também não está livre de culpas . Cala e deixa correr .
A.A.
Hoje , Domingo dia 19 de Julho , o pó que se fazia sentir ,causado pelo movimento dos automóveis, do que resta do areal , no Passeio 25 de Abril , obrigava as pessoas a afastarem-se do local ...
P. Lacerda Ponte de Lima
Pessoas que nos visitam - recentemente um jornalista do Expresso- mostrava-se espantado com tantos automoveis estacionados numa frenet ribeirinha que considerou' unica em qualquer país do mundo. '
Carlos Vieira
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