quinta-feira, agosto 02, 2007

A Maçonaria, Norton de Matos e Fernando Pessoa

Em 1935, na Assembleia Nacional do Estado Novo foi apresentado, pelo deputado José Cabral, o projecto de lei que proibia os portugueses de fazerem parte de associações secretas que, como recorda Oliveira Marques, "ainda que não o especificasse, (...) dirigia-se unicamente contra a Maçonaria". Reagindo, o Grão-Mestre José Norton de Matos escreve ao presidente da Assembleia Nacional insurgindo-se contra o facto de se atribuir à Maçonaria a designação de "associação secreta", ou seja, uma associação que contaminava a sociedade "nos seus mais essenciais elementos, corrompendo o Estado, por uma acção dissolvente sobre os seus órgãos, e comprometendo por vezes a honra e a vida dos seus servidores". É neste contexto que surge a intervenção, através de um artigo no Diário de Lisboa, de Fernando Pessoa. Acontece que, contrariamente ao que muitos depreenderam da posição tomada pelo poeta, não há evidências que demonstrem a sua condição de maçon (como bem nota Carlos Gomes num dos comentários a um post anterior) . Condição que ele próprio repugna no referido artigo:

[Fonte: MARQUES, A. H. Oliveira de - A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995, pág. 58, 59 e 217 a 233; excerto do artigo de Fernando Pessoa reproduzido a partir de http://www.vitoriagol.org/index.php?oid=22]

1 comentário:

Anónimo disse...

Em relação à proibição estabelecida durante o Estado Novo dos portugueses e, mormente, os funcionários públicos, participarem em "associações secretas", não se dirigia exclusivamente à Maçonaria como o Prof. Oliveira Marques mencionou mas também a partidos políticos que se encontrassem na clandestinidade, o que há época em que o referido diploma foi apresentado - 1935 - apenas dizia respeito ao Partido Comunista Português. Ainda durante os últimos anos do Estado Novo, constituía uma das condições de admissão na função pública assinar uma declaração em como o candidato ao cargo não pertencia a qualquer associção secreta nem era comunista (não me recordo precisamente dos termos!).
Situando no tempo a aprovação do referido diploma, ela ocorreu dois anos depois da aprovação da Constituição política (1933), marco histórico no qual devemos situar o começo do Estado Novo e o termo da Ditadura Militar implantada em 28 de maio de 1926.
Em 31 de Janeiro de 1934, portanto menos de um ano depois da aprovação da constituição, sucede na Marinha Grande o levantamento armado que, na realidade, constituiu o estertor do anarco-sindicalismo em Portugal, até então, a verdadeira força com implantação no operariado português e no movmento sindical. E, apesar do PCP já existir desde 1921, ou melhor antes proveniente da Federação Maximalista Portuguesa, ele só começa a adquirir maior expressão a partir do desaparecimento do anarco-sindicalismo. Mas o regime sabia que, mais tarde ou mais cêdo, teria de o levar mais a sério, até devido ao apoio internacional que obtinha junto da URSS e da III Internacional da qual se constituiu como "secção portuguesa".
Quanto à Maçonaria, depois de extintos os partidos republicanos, particularmente o Partido Democrático, é natural que o regime visse com receio a possibilidade da oposição ao Estado Novo se transferir para uma sociedade cujos rituais e formas de funcionamento não dominava, tanto mais que durante a I República foi íntima a ligação da Maçonaria e dos partidos então existentes.

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