sábado, agosto 02, 2008

O domingo passado foi dia cheio, para as festas e arraiaes campestres. Festejou-se a Senhora da Boa-Morte, na freguezia de Correlhã, o Senhor da Cana Verde em Moreira, e houve a festa do Senhor, na de Sta. Comba. A concorrencia dos romeiros foi diminuta em todas ellas, attendendo ao calor do dia, e a não poderem estar em todas ao mesmo tempo. No domingo proximo festeja-se o Senhor da Saude, na freguezia de Sá, havendo na vespera, illuminação, muzica e fogo de artificio. É de presumir que a concorrencia seja maior, pela devoção que todos teem com imagem tão milagrosa. [O Lethes, 1865]

Por estes dias, entramos em contacto com a equipa responsável pelo jardim "Le Feu et 300 Arbres" (O Fogo e 300 Árvores), concebido por Sylvian Morin e Aurélien Zoia, arquitectos paisagistas, para o 4º Festival Internacional de Jardins. Fazer do fogo o tema central de um jardim tinha-nos suscitado alguma perplexidade.

Sylvian Morin justificou a escolha: uma viagem a Portugal deixou uma imagem indelével - a de florestas a arder, fumo nas montanhas e o característico odor a madeira queimada.

J'ai voyagé au Portugal il y a 2 ans, pendant l'été, et j'ai été marqué par l'importance des incendies et des feux de forêts dans votre pays. La fumée était présente dans les montagnes, visuellement, autant que par l'odeur. Aussi, nous avons souhaité consacrer un jardin spécial sur les arbres brûlés.

Perguntamos: se não é uma apologia do fogo, o jardim pode ser uma referência à Fénix que renasce das chamas?
Il s'agit pour nous de faire entrer un morceau de paysage caractéristique à l'intérieur d'un jardin. L'idée était tant de montrer l'espoir de faire renaître un paysage qui se transforme, que, dans la deuxième partie du jardin, suggérer que le feu est toujours présent, que le paysage des forêt est fragile, et que votre pays n'est pas à l'abri des incendies. Les arbres brûlés gardent la mémoire du feu sur leur tronc. Il était question pour nous, en tant que paysagistes, de rappeler aux gens la présence des incendies, à travers l'image d'un jardin.

Para os dois membros do Atelier ALTERN, trata-se de integrar um pedaço de paisagem característica no interior do jardim. De uma paisagem que renasce. Se o jardim revela a fragilidade da floresta, mostra, igualmente, a capacidade regeneradora das árvores. Como afirma Sylvian Morin, as árvores queimadas guardam a memória do fogo no seu tronco.

O jardim tem a virtude de questionar o visitante. Para além da riqueza cenográfica (que talvez tenha estado na origem da escolha deste trabalho para capa do catálogo do Festival), o jardim suscita a pergunta. Se nos parece próximo - por remeter para uma das imagens e um dos flagelos nacionais - é (aparentemente) inusitado - por tomar como tema o fogo, elemento destruidor. Este é um trabalho original, onde o lúdico (que impera noutros jardins) deu lugar à pergunta.

Aurélien ZOIA et Sylvian MORIN são dois jovens arquitectos paisagistas instalados na França e criadores do ATELIER ALTERN. O seu trabalho pode ser visto em http://www.atelieraltern.com/.

Mais um excerto de BIBLIOGRAPHIA HISTORICA PORTUGUEZA ou catalogo methodico dos auctores portuguezes, e de alguns estrangeiros domiciliarios em Portugal, que trataram da historia politica ... [obras até 1840], de Figanière (Jorge Cesar), Lisboa, 1850.

Sem comentários:

faces da revista